segunda-feira, 7 de março de 2011
Um Animal Chamado Homem !!!
EPÍLOGO
Treze de outubro de 1979, 15 horas. Nasce um menino, classe social alta, cujo nome é Luciano, filho de um médico conceituado, com vários cursos no exterior, tido como um dos melhores profissionais do mundo em sua especialização, dividia seu tempo dando aulas, operando e fazendo palestras. Mãe do Luciano: Psiquiatra, com vários livros publicados.
Quatorze anos após o nascimento do Luciano. Treze de outubro de 1993, 15 horas. Nasce um potrinho todo branco, filho de pais puro sangues, ganhadores de várias medalhas em torneios e exposições tanto no Brasil como no Exterior. O dono do potrinho pagou uma fortuna por ele, na certeza que seria uma das grandes aquisições para sua criação de cavalos. Segundo seu dono, este potrinho deverá ser um dos grandes reprodutores da região, senão o maior.
Capítulo I
Luciano está com 18 anos de idade. Cabelos cortados , estilo militar , por imposição de seu pai. Um moço com físico atlético, gentil, agressivo, carinhoso, semblante carregado, olheiras, triste, alegre.
O Potrinho tornou-se um cavalo lindo. Branco como a neve. Quando andava, as pernas pareciam que estavam bailando, cheias de harmonia, com passadas majestosas. Seu nome: Majestade.
Luciano aprendeu novinho, a jogar bilhar. Joga escondido dos pais. Com 18 anos de idade, já ganhou cinco troféus, sendo dois deles conquistado na classificação: 1º lugar.
Luciano foi preparado , por seu pai, para ser ,também, como ele. Um médico bem sucedido, tanto profissionalmente como monetariamente. Só que já fizera duas tentativas no vestibular, e nada de passar. Seu pai queria que fizesse medicina na mesma universidade em que se formou.
Majestade foi alugado, por um preço altíssimo, para a primeira tentativa de ser reprodutor. Falhou. Novamente alugado. Outra decepção. Seu dono começou a entrar em pânico. Fez as contas do quanto havia gasto com o animal, equivalia, segundo seus cálculos, a mais de cinco carros novos.
Capítulo II
Luciano, quando entrava em seu quarto, trancava a porta, ligava o som numa altura razoável. Seus pais achavam que ele estava estudando com afinco para o vestibular. Ele pulava a janela, e ia jogar bilhar. Sua paixão. Sua vida. Sua essência.
Chegou um circo na cidade. O cavalo dançarino havia ficado doente. Era dia de estréia e, o pior, este cavalo chamara atenção de toda a cidade. O dono do circo conseguiu, não sei como, chegar até o proprietário do Majestade, ficou maravilhado de ver aquele cavalo com toda sua imponência, sua grandiosidade ao movimentar-se. Quis comprá-lo. O proprietário irritou-se.
- Este cavalo, moço, não é de circo, é reprodutor.
Disse o dono do circo:
- O Sr. pode cobrar o que quiser, mas me empreste o cavalo somente hoje, que é o dia da estréia...
- O meu cavalo não vai lhe servir de nada, não é treinado para estas coisas....Ele é reprodutor.
- Não tem importância. Eu vou levá-lo ao picadeiro somente por alguns minutos...
Acabaram negociando com muito custo. O proprietário cobrou um preço fora do normal, bem acima do prejuízo que tivera antes com o animal, quando das duas tentativas fracassadas, de reproduzir.
Majestade entrou no picadeiro, todo enfeitado de azul e vermelho. A platéia vibrou. Majestade empinou, assustado com àquelas palmas, logo se recompôs. Abaixava e levantava a cabeça. Uma menina, toda enfeitada também, de uns cinco anos mais ou menos, agarrou-se ao seu pescoço. Majestade sentiu todo aquele carinho. Relinchou. Brincou no picadeiro, todo desajeitado, mas brincou. Seu dono, no meio da platéia, não entendia nada. Como podia ser aquilo? Como um cavalo daquela espécie e descendência, puro sangue, podia fazer brincadeiras como àquelas num circo? Investiu tanto dinheiro nele!...
Luciano abriu a gaveta. Pegou um anel da sua mãe, cheio de brilhantes, trocou-o por um revólver calibre 38. Deitado em sua cama, com a arma apontada para a parede, à sua frente uns quatro metros, Luciano ficava mirando um ponto imaginário. Às vezes, rapidamente, ele via a cabeça de seu pai como alvo, ora o de sua mãe. Era filho único.
Luciano , já fez a quinta tentativa, no vestibular. Ainda não conseguira ser aprovado. Entrou em depressão. Sozinho. Solitário.
- Malditos sejam meus pais! Não vou conseguir ser médico. Será que estes merdas não percebem o que eu quero? Eu sei é jogar bilhar...Eu posso, um dia, ter a chance de ser campeão num torneio internacional. Mesmo que isto não aconteça, eu sei é jogar bilhar. Não me interessa o resto...eu adoro o bilhar. A magia das bolas, o bater delas, é como se estivessem beijando. A satisfação interior de uma jogada bem sucedida, ou mesmo de uma jogada mal concluída....a gente fica analisando como , onde e porquê da falha. Estes porras dos meus pais, que me fizeram , não entendem o que eu sou? Minha mãe, é psiquiatra, de quê me adianta? Eles não percebem que eu nasci pra ficar dias e noites, sucessivas, à beira de uma mesa de bilhar? Aquele pano verde faz parte da minha vida. Eles não entendem? ....a sinuca de bico, uma jogada de mestre, trava, solta, arrisca, recua, ataca, o adversário fica perdido e apavorado. Enjaulado, sem ter saída...aí ele entrega o jogo. A porra da minha vida, tá parecendo uma sinuca de bico....
Luciano ficou passando as mãos no rosto, no cabelo, andava prá e prá cá no seu quarto. Deu um grito:
- Eu vou matar vocês....
Capítulo III
O dono do circo fez nova tentativa para comprar o cavalo.
- Já lhe disse, moço, este cavalo foi criado para ser reprodutor, não foi criado pra ser palhaço de circo.
6ª tentativa de Majestade. Fracassou, tudo indicava que jamais seria um reprodutor. Seu dono bufava de raiva. Bateu tanto no cavalo, que àquela cor branca do seu pelo desapareceu com a vermelha do sangue.
- Amaldiçoado de animal, você vai ter o fim que merece...
Majestade foi levado para um olaria. Preso a uma tora de madeira, ficava andando em círculos, movendo a engrenagem que misturava a tabatinga, terra que fabrica o tijolo. A ordem dada aos seus empregados era a seguinte: Não dar água e nem alimento ao cavalo. Não deixar descansar, bater sem dó e sem piedade.Três dias depois, Majestade morreu.
Luciano fez outro vestibular. Desta vez, tinha plena certeza que não havia passado, nas folhas das provas desenhara uma mesa de sinuca, junto ao desenho, outros tantos, com possíveis tacadas e estratégias numa partida hipotética. Examinou detidamente àqueles desenhos, chegou a conclusão, que algumas jogadas seriam viáveis.
Capítulo IV
Sábado, 20 horas. Deu-se inicio a um torneio de bilhar, onde vieram participantes de várias capitais do Brasil e do interior. A cidade estava toda animada.
O salão, onde ia ocorrer o campeonato, estava todo enfeitado, com faixas dando boas vindas aos participantes.
As apostas eram altas, cada um apostava aquilo que tinha, até passarinhos entraram bem como carros, e lotes. Na bolsa de apostas, comandada por uma equipe vindo de fora, haviam dois jogadores que lideravam: Luciano e outro de Porto Alegre. Ao todo, o campeonato constava de 22 participantes.
Luciano saiu do banho, enrolado numa toalha. Seus pais vieram ao seu encontro:
- Luciano, parabéns, acabamos de receber a notícia, você passou no vestibular, será um grande médico!
Antes que Luciano pudesse dizer que seria impossível ter passado, puxaram-no pelo braço, desceram as escadas da mansão, e foram até o jardim:
- É seu, Luciano, este carro custou 150 mil dólares!
Disse a psiquiatra, sua mãe:
- Temos outra surpresa, você pode escolher uma viagem para qualquer lugar do mundo...
Luciano permaneceu estático, ouvindo àquela notícia absurda. Olhou fixo nos olhos dos seus pais por alguns segundos....deixou-os ali, e retornou para seu quarto.
23 horas e 46 minutos.
O campeonato estava no auge. Luciano ia ganhando as partidas. Todos seus oponentes foram sendo desclassificados. A final, que possivelmente deveria ser 4 dias após, disputariam apenas 6 jogadores.
Na tabela, o campeão de Porto Alegre, ia enfrentar Luciano, hoje à noite. A tensão ia aumentando dentro daquele salão.
1 hora e 32 minutos:
O auto falante anunciou: Srs. , prestem atenção, o campeão da capital gaúcha, Sr. Moreira versus o jovem, campeão Estadual, Luciano, uma salva de palmas para eles. O salão explodiu.
1 hora e 54 minutos:
Luciano pegou o taco calmamente, passou giz, um ar de tranquilidade estampava seu rosto, que naquele momento estava todo sereno e seguro de si. O juiz jogou cara ou coroa pra ver quem iniciava. Normalmente, quem joga bilhar, e joga bem, liquida a partida de imediato, o adversário nem chega a jogar, por isso chega a ser fatal quem começa jogando primeiro.
Luciano começou pela jogada mais complicada até certo ponto. Começou do final, cantou a caçapa, e engavetou a bola 7. Uma explosão de palmas. Com olhos fixos na mesa, parecia um maestro com aquele taco preso às mãos, as bolas iam desaparecendo da mesa. Pediu um pano, passou em todo taco, outra passada de giz, não tinha a menor pressa. Deu uma volta quase completa em volta da mesa, pensava em uma tacada totalmente diferente das que já tinha feito. Dito e executado, com o taco na altura da espinha, uma jogada de alto risco, naquela posição, Luciano por décimos de segundos olhou a mesa, o pano verde, mentalmente materializou toda a jogada. Arriscou, o salão parecia que ia desabar. Conseguiu. Recebeu o cumprimento do adversário, seus amigos pegaram-no e o jogaram para o alto, e gritavam:
- Vai ser campeão...vai ser campeão.....
Do nada, um homem, com aspecto furioso, apareceu e ia abrindo passagem entre as pessoas no salão. Quando aproximou-se de Luciano disse aos berros:
- Seu vagabundo, gastando meu dinheiro nesta porcaria de jogo...e o seu futuro?
Luciano permaneceu calado. Todo o salão ficou em silêncio, afinal, aquele médico, pai do Luciano, era um homem de muito poder, tanto no aspecto financeiro como politicamente.
- Sr. Novaes, tenho a maior consideração pelo Sr. , aliás, eu queria era que o Sr. tivesse sido meu pai- o dono do salão balançava a cabeça emocionado concordando com Luciano- Prosseguiu Luciano:
- Quanto a você, meu pai, doutorzinho de merda, comprou pra mim uma vaga na escola de medicina, eu não passei no vestibular- olhou pra todos no salão- Verdade, ele comprou uma vaga pra mim ser médico, mas não serei médico, eu sou um jogador de bilhar. Podia agora, neste instante,- retirou atrás da camisa um revólver calibre 38- poderia te matar agorinha, aqui, mas não, seria bom demais para você e minha mãe, quero que você carregue pelo resto da vida, a dor que você e minha mãe me causou...
Luciano apontou o revolver no ouvido direito e disparou, seu sangue espirrou na roupa do Sr. Novaes !
Miquito Mendes !!!
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