sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Uma relembrada relâmpago !!!




Com doze anos de idade acompanhei um circo, menti ao dono que era órfão. Queria ser trapezista, palhaço, queria ser tudo no circo. Meu pai descobriu, levamos a maior bronca.
Fui mestre em furar filas de cinema no Rio de Janeiro, nos tempos de universitário, era mais duro que rapadura.
Apaixonei-me pela Soprano Maria Lúcia Godoy, a maior intérprete das músicas de Villa- Lobos. Fabriquei um radinho com peças usadas e achadas nas ruas do Rio, somente para ouvi-la na rádio MEC. Sabia quase tudo sobre sua vida, localizei através de amigos seu endereço e escrevia cartas pra ela. Algumas foram respondidas.

Em uma apresentação comentada pela mídia escrita e falada de Maria Lúcia Godoy no Teatro Municipal, vejam só:

Consegui entrar no Teatro Municipal do Rio de Janeiro( fura fila e cara de pau) vestido com calças Jeans surrada ao máximo e sandália feita com borracha de pneu de carro. Misturei-me no meio daquela sociedade vestida com roupas de gala, antes que eu encontrasse um lugar seguro , fui descoberto e convidado gentilmente à retirar-me. Esperei lá, naquela Praça da Cinelândia, o final da apresentação. De vez em quando , me aproximava da entrada daquele prédio majestoso, pra tentar ouvir um pouquinho da voz da minha musa. Ou na maior cara de pau via as possibilidades de novamente tentar entrar.
Grudei no Teatro Municipal. Finalmente foram saindo as pessoas, eu mais que depressa corri( já havia me informado onde ela embarcaria no seu carro). Me aproximei e gritei seu nome, ela apenas sorriu.
Com 16/17 anos paquerava mulheres com o dobro da minha idade. Achava as meninas nesta faixa de idade estupidamente burras, ou quem sabe seria eu? Não conseguia me entrosar, por mais que eu tentasse no final das contas todos acabavam decepcionados. Namorei uma das minhas professoras, escondido claro. Elas sentiam vergonha de aparecerem comigo na praça ou irem ao cinema, devido a diferença de idade. Quê sacanagem !
Toquei num conjunto músicas da Jovem Guarda, Beatles, etc. Nas seleções das músicas, quando chegava a italiana Dio Como Ti Amo, meu Deus, a gente lá do palco observava àquela grudadinha marota, os casais se explodiam em paixão e tesão, o máximo que conseguiam era um beijinho super rápido na boca e olhe lá, quem conseguia tal façanha era herói, pois sempre tinha algum chato da família vigiando.
Ensaiei até não poder mais, a música feelings, à época um grande sucesso.
Numa única noite, noite escolhida com meus amigos pra fazermos uma serenata, fui interrompido três vezes,( na mesma casa) e por cima, ao pular o muro correndo meu violão foi para o beleléu !
Em 1964, o prefeito da cidade de Itanhandu- Sul de Minas- denunciou minha família , irmãos, tios, tias, como comunistas, ligou para o DOPS em Belo Horizonte.
Em 1968, nesta mesma cidade, Itanhandu, eu e meus irmãos fomos discriminados pelos nossos amigos, éramos chamados de comunistinhas. Um dos maiores amigos meu naquela época disse-me assim: - Miquito, sua Tia é espiã comunista, estamos proibidos de “brincar juntos.”
Entre 4 ou 5 anos, numa cidade de nome Alagoa, onde nasci, até hoje não sei bem como foi, mas de uma coisa eu sei e me lembro quase que perfeitamente, foi mais ou menos assim: Naquele guarda-roupas joguei um fósforo aceso. Depois foi um Deus nos acuda, nossa casa virou um monte de cinzas. Me lembro ainda do meu pai me abraçando querendo me proteger, segundo eu soube muitos anos mais tarde, alguém da família queria me castigar.
Por volta dos 12/13 anos me proibiram( um dos meus irmãos) de tocar no assunto em casa sobre cinema( nesta época meu Pai morava em outra cidade). Argumento: ia de mal a pior nos estudos, além do quê eu reunia um bando de amigos no quintal, faziam um círculo pra ouvir histórias que eu contava, às vezes eu mentia dizendo que havia visto o filme da história, que nada, eu era um contador de histórias mesmo. Meus amigos ficavam tão impressionados, olhavam fixo em mim, pareciam que estavam mesmo defronte a telona.
Aos 14 anos e pouco, pulei um muro, sem brincadeira, devia ter uns dois metros de altura, e pra piorar concretado em cima,com cacos de garrafa. Foi quando conheci e vi pela primeira vez uma “ ZONA”. Entrei por aqueles corredores sujos, quartos com algumas portas abertas, pude observar: todos eles eram coloridos, tipo uma luz roxa, vermelha, azul...davam àquela tonalidade característica do ambiente. Num susto dei de topo, melhor, cheguei num quarto que mais parecia uma pequena salinha, e vi uma loira( passados tantos anos, ainda me pergunto, será que ela era loira mesmo? Será que ainda está viva? Será que teve filhos?...pois este dia ficou marcado em minha vida), a loira lavava sua vagina em cima de uma bacia desbotada com sua mão freneticamente naquele sobe e desce. Devia estar esperando o próximo cliente. Só quê ao terminar de lavar, passou uma toalha que mais parecia um pano de chão de tão encardido e enxugou cuidadosamente sua vagina. Eu ali olhando... admirado, afinal estava uma mulher daquele jeito à minha frente, que doce loucura meu Deus! Ela foi logo assuntando:
- Tem dinheiro? ...mostra se tem...
- Tenho um canivete...
Arranquei com tanta força o canivete que rasgou o bolso da calça coringa e estendi pra ela , sei que eu disse que ele valia tanto e tal....
Ela riu, pareceu no canto da boca entre os dentes, um brilho cor de prata ou algo parecido, mais tarde vi que era um arame da sua ponte. Conforme estava dizendo, seu sorriso ora era decepcionado ora de espanto, mais tarde também descobri que ela ficou espantada por ver quase uma criança ali naquele lugar. Penso que de certa forma ela ficou comovida. Fiquei freguês, também pudera, além de não pagar, de vez em quando ganhava uns chocolatinhos que vinham embalados numa caixinha em forma de cigarro, com uma criança negra fazendo propaganda. Tenho tentado lembrar o nome deste chocolate. Era marcado religiosamente a hora que eu podia ir ao seu encontro( quem sabe, outro dia eu resolvo contar mais detalhes, mas contarei apenas mais um. Um daqueles dias marcados, eu não apareci, me disseram que ela ficou apavorada, verdade mesmo, pois ainda me disseram, que ela passou algumas vezes na rua onde eu morava, e naquela época sinistra, mulheres de ZONA onde passavam chamavam atenção.)
Durante muitos meses eu fui tratado como rei. Noutra noite, pra minha surpresa, quando lá cheguei, me disseram que ela havia ido embora e não sabiam dizer pra onde. Entrei em pânico. Também, pra minha surpresa, tive que ir ao médico. Medicação: tetrex 500mg, estava com gonorréia.

Miquito Mendes !!!

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