terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Já aconteceu com você???















De sentar pra escrever, super concentrado, neguinho chega e diz:
- Me empresta o isqueiro?
Puto da vida, estende a mão e nem olha pra pessoa. Você parou no meio de um diálogo importante, com o seu personagem. Pronto. Ainda continua puto da vida, dá um tempinho, tenta relembrar as cenas e situações onde foi interrompido. Devagar, por cima... por cima, finalmente, vai lembrando.
Pra evitar estas situações, você declarou guerra sem dó nem piedade ao telefone, por uns tempos ele foi o inimigo número um em sua vida. Agora tá livre.
Vem o estalo e a história volta a ser escrita, vai deslanchando, momento precioso pra quem escreve, os personagens vão se encaixando, tomando forma. Daí quê, porra, neguinho chega e na maior cara de pau vai logo falando:
- Onde está a chave do carro? Ah, você está escrevendo, nossa, não cansa não de escrever?
- Puta quiu pariu , você pensa.
Sua mente fica pertubada e turbinada por maus pensamentos, em segundos você deseja tudo pra esta pessoa, que aconteça com ela....sabe-se lá...quem sabe quebrar uma perna? Ou, tomara que o carro estrague, ou a polícia a prenda por infringir o sinal...tomara tudo.
Seu colesterol, pressão e glicose tá explodindo. Daqui ouve o barulho daquele maldito carro, ainda bem...vai me deixar em paz, dá um suspiro, ih, desligou o carro.
- Tem gasolina o carro?
Você dá de ombros.
- Por acaso, você , de repente, ficou sem visão, tá cega? Vai ao médico, pô.
- Mau educado !
Você dá de ombros novamente.
Na altura da situação, àquela possível história, que estava ganhando contornos foi prô saco.
Não há meios de desenvolvê-la. Mas vai fazendo tentativas...esforçando...putz...consegue retornar o fio da meada. Sua cabeça cria três ou quatro diálogos e cenas à frente. Concentrado manda brasa. Aí, outra voz:
- Ô pai, um minutinho, se não fosse tão importante, eu não ia te incomodar.
Como pai, logo pensa o que há de pior.
- O que aconteceu, pergunta aflito.
- Está indo uma galera passar o carnaval em Cabo Frio , me arruma dinheiro pra ir junto?
Você pára. Fica igual uma estátua na cadeira. Passa suas mãos no rosto, e mais outra...e mais outra....pra ficar livre, levanta o dedão em sinal positivo. Não quer falar, não pode, senão vai mandar pra aquele lugar.
- Beleza, Pai !
Você levanta da cadeira e vai até a janela e deseja: Tomara que esta galera seja presa no carnaval, e dá àquela risadinha imaginando a cena...Diz em voz alta:
- Vou encerrar por hoje, puta merda.
Lá dentro de você, algo te empurra, determina, volte para àquela cadeira e continue a escrever.
Se usa computador é bem possível que delete o que conseguiu escrever. Se escreve em papel sulfite, você pega elas, cheio de raiva, e faz picadinho. Muda o tema, outra história, outro contexto, outro tudo é o que deseja.
- Merda, grita !!!

Miquito Mendes !!!

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