domingo, 27 de fevereiro de 2011

A China muda sua política !!!
















A China deslocou para suas fronteiras, um contingente superior a quarenta milhões de soldados. Internamente, mais de 10 milhões patrulham as cidades mais importantes.
O arsenal nuclear está de alerta.
Razão de toda esta movimentação: deu o calote financeiro no mundo, parou suas importações. “Proibido importar”, são as novas regras, de um novo governo.
A China, até então, era um dragão devorador das importações. Países emergentes, aumentaram seu PIB, graças as exportações para este país.
A China importava aço, ferro, calcário, petróleo, leite, frutas, sapatos, botões, parafina, roupas, terra bruta, pedras, madeira. Imaginem tudo que se possa importar, é justamente o que a China fazia.
O Mundo está boquiaberto. As bolsas de valores despencaram provocando um desastre econômico jamais visto ou imaginado pelos famosos consultores ou cientistas visionários. A quebra da bolsa ,na década de 20, perto do que está acontecendo atualmente, chega a ser irrelevante.
Os investidores e multinacionais, tiveram seus bens bloqueados e as empresas nacionalizadas, estão presos incomunicáveis.
De hora em hora, o novo governo Chinês vai à televisão, conclamando o povo a apoiar as novas medidas.
- Entramos em nova ERA Política e Social , na República Popular da China.

O caos provoca um efeito dominó deixando a globalização em pó.

As exportações de laranjas, sucos, e outros bens-manufaturados , destinados à China, estão parados em seus portos de origem, outros ancorados em portos de outros países, provocando uma super concentração e outros caos, como reabastecimento, incêndios, se não bastasse há casos de saques.

Estão proibidos, terminantemente, pousagem e decolagem de aviões, nos aeroportos em toda China, até segunda ordem.

Nas avenidas, universidades, lugares públicos, hospitais, o povo assiste outra mensagem atentamente pelos telões:
- O novo governo da República Popular da China, avisa que suas “ ogivas nucleares” , por precaução, estão direcionadas para várias capitais de outros países, esperamos que os Srs. Governantes tenham juízo, evitando problemas ao novo regime instalado democraticamente apoiado pelo povo Chinês.
A população chinesa, superior a 1 bilhão e 200 milhões de habitantes, estão se manifestando em todos os lugares da China. Aqueles que são contra, imediatamente são desaparecidos.

As Embaixadas foram invadidas e tomadas, bem como todo o meio de comunicação com o exterior. Os Embaixadores estão presos e separados em vários locais distintos , para evitar qualquer tipo de possibilidade de serem resgatados.

O que se pergunta é: Como os Serviços Secretos e de Inteligência do Ocidente nada perceberam? Não houve a menor sinalização de que poderia ocorrer esta reviravolta na China?

Wall Street mostrou sua incapacidade e fraqueza perante esta revolução brutal dos acontecimentos, entregou os panos.

Vídeo Conferências entre chefes de Estado ,trocando informações e procurando uma solução , seguem incansavelmente.

O mundo parou.
No globo terrestre, noventa por cento de todos os lares possuem um produto, com a marca: made in China. Neste país, outros noventa por cento da total capacidade de sua produção, são matérias primas importadas.
Que teorema?

Obs: Imaginem o cenário acima, fictício, caso venha um dia acontecer com a 2ª maior economia do mundo?

Miquito Mendes !

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Ser vagabundo !!!


















Aos olhos seu sou um vagabundo?
Tá certo...tudo bem..., sou sim e pronto.
Como você queria que eu fosse?
Pode me dizer?
Não!...nem precisa...sei exatamente
como você me quer!
Ou,
Como vocês me querem,
Tá bom,
Sinceramente, jamais serei
O “ embrulho” que vocês idealizaram
pra mim.
Vocês já vagabundearam alguma
vez na vida? Não?
Por falta de tempo?
Mas se tivessem topariam?
Ah,
Seria constrangedor !
Ser vagabundo tem as suas vantagens,
e desvantagens.

VAMOS PELAS DESVANTAGENS:
Você quer dar um presente,
Opa, vagabundo não dá presentes,
Mas tem fome.
Vagabundo olha as vitrinas,
Apenas por olhar, quando lhe é permitido,
Ele já passou da fase do consumismo,
Nem lembra mais.
Sente sim,
Falta de carinho.
Normalmente um vagabundo é solitário.
Um afago seria bom, mas...
Quem quer um vagabundo?
Ele é expulso até do ar que respira.
É olhado com piedade e raiva.
Um vagabundo,
Vale menos que um bom dia!
Ser vagabundo, para algumas mentes,
Significa que ele está pagando
algum tipo de pecado.
Outros dizem:
- Deixa de preguiça, vai trabalhar!
Ao vagabundo, resta apenas ouvir.
E seguir adiante,
Para um lugar chamado:
Indiferença !

AS VANTAGENS DE SER UM VAGABUNDO:
Não precisa demonstrar
nada, a ninguém.
Não vive de status.
Não encena.
Não desfila com roupas de marcas,
parecendo a griffe pra todos verem.
Não recebe tapinhas
nas costas cheios de falsidade.
Não tem crédito,
Nem amigos falsos.
Não tem nome no Serasa.
Leva a vida
Como bem entender.
Quando...quando...toma banho,
Fica nu em qualquer lugar,
Não tá nem aí.
Se por acaso,
vai preso,
Agradece por dormir naquele
Colchão todo rasgado da cadeia.
Ninguém cobra nada
de um vagabundo.
Ele não se preocupa
Com a sua aparência.
Não tem inveja,
E não é invejado.

Que eu saiba, até hoje, o único ser humano que entendeu o que é ser um vagabundo, chama-se Charles Chaplin.

Miquito Mendes !!!

Incógnita !!!




É possível alguém nascer predestinado ao sucesso? ...e também ao fracasso?
Quais são os processos que interferem nestes acontecimentos? A natureza é cruel neste aspecto?
Pegamos como exemplo Henry Ford: Foi o primeiro do mundo a desenvolver a linha industrial. Quais foram as nuances que o fez ser um visionário? Quais particularidades o levaram a construir seu império?
Galileu Galilei , Copérnico, Michelângelo, com suas genialidades?
Beethoven?
O que difere estes homens dos outros? Onde está a incógnita? Poderia dar uma resposta simplista, como:- Ora, são mais inteligentes que os outros.
Mas não é esta a questão em si, é algo mais complexo.
Alguns tentam durante toda sua vida, desenvolver um projeto e não conseguem. São menos inteligentes? Nasceram fadados ao fracasso?
Outro exemplo interessantíssimo: O grego Onassis, jurou a si próprio, que antes dos 21 anos teria seu primeiro milhão de dólares, aconteceu exatamente como previra.
Estaria a natureza , ou algo similar, que não tenho a menor condição de definir ou identificar, ajudando de alguma forma, que foge à minha racionalidade, estes gênios? Se assim for, a natureza é discriminatória?
A Av. Paulista, em São Paulo, está entre as primeiras do mundo em concentração de heliportos, e logo ali, perto, centenas de mendigos abrigam-se debaixo dos viadutos. É importante ressaltar que minhas observações nada tem a ver com o lado religioso, ou com àquela máxima ou mínima, que pessoalmente acho ridícula que diz o seguinte: nem os dedos das mãos são iguais.
Minha curiosidade é tentar entender os fatos, o real significado de uma natureza, que me parece metamorfozeada.
Alguns conseguem ganhar fortunas, sentados debaixo de um guarda sol, à beira mar, usando apenas seu not book, e minha curiosidade fica mais aguçada quando à frente dele, passa o cara gritando: - Olha o picolé !
Qual mistério existe nesta engrenagem toda? Seria correto dizer: mistério? Ou, mais adequado perguntar: Que incógnita fantástica e esplêndida?
Napoleão Bonaparte tornou-se oficial com apenas 16 anos de idade.
Qual a dinâmica ou parâmetro usado neste processo todo, permitindo Napoleão ser um oficial com àquela idade? ...fugindo totalmente às regras?
Outro exemplo: Uma turma composta de 30 alunos, sendo quê: 10 destes são extremamente estudiosos e dedicados, outros 19 nem tanto, porém levam a sério, e o trigésimo nem está aí, aparentemente é um aluno relapso. Acontece quê, este aluno relapso , no futuro, torna-se um gênio. Seja pela fortuna acumulada, pelas palestras que apresenta e etc. Quanto aos outros 29, levam uma vida regular, nenhum deles teve destaque como o outro.
Por quê?
Vem a pergunta novamente: O trigésimo aluno, em quaisquer circunstâncias , se destacaria dos demais?

Sinceramente , gostaria de aprofundar-me neste assunto, mas a complexidade e perplexidade me deixam de tal forma confuso, que não consigo seguir adiante em minhas observações.

Miquito Mendes !!!

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

A Cerca ...

















Parece aquele tipo de produto que anuncia na televisão, tem mil e uma utilidades.
A Cerca serve para proteger uma plantação de verduras, tem ainda serventia para impedir a saída de animais de um determinado lugar e invadir outro.
A Cerca é ponto de referência entre fronteiras. Muitos países provocam guerras, apenas para mudar a Cerca e aumentar seu território, sua fronteira.
A Cerca em formato de muro separou durantes anos, dois países, a conhecida Cerca ou Muro de Berlim. A derrubada desta Cerca marcou o fim duma era.
Existe, também, uma Cerca invisível dentro dos seres humanos. Àquela que impede que determinadas atitudes sejam tomadas, um medo incontrolável toma conta e invade a pessoa .
E por falar em Cerca, dentro do folclore brasileiro (minha mente é super poluída) existe àquela famosa pulada de Cerca...alguns já acostumaram tanto que nem estão aí, outros, quando fazem, sentem tanto remorso e se reprimem tanto , que vão parar num confessionário e abrem o bico para o padre, como se resolvesse ou, num passe de mágica, sua pulada de Cerca foi apenas um momento de fraqueza da carne, é mole?
Agora, sabem aqueles caras que condenam veemente a pulada de Cerca? Estes são os piores, lá no íntimo deles , - são uns sofredores- bem lá no fundo do baú, eles querem também dar uma puladinha de Cerca, mas falta coragem ou dependendo da sua formação religiosa parte para a desculpa: É pecado pular Cerca.
A Cerca é estranha e misteriosa por ela possuir várias formas.
Na construção de uma Cerca, por apenas míseros centímetros de terra, caso ela tenha avançado o terreno do vizinho, pode resultar uma catástrofe com final parecido às tragédias gregas.
Líderes no mundo, há milhares de anos, traçam uma Cerca imaginária , que vira obsessão em sua mente, com finalidade de aumentar seu poder. Com esta atitude, milhões de seres humanos pagam com a vida,por este capricho.
Dentro de nossas próprias casas, existem Cercas invisíveis, sob hipótese nenhuma você pode , sequer, ousar pular.
Existe a Cerca do comportamento estabelecido pelos padrões vigentes. Ela te maltrata e vai te destruindo pouco a pouco. Te limita em todos aspectos. Machuca. A Cerca da ignorância, do preconceito, da discriminação, da maldade e bestialidade.
Existem Cercas que envolvem lágrimas oriunda da humilhação, e da fome.
Há um tipo de Cerca tão radical, que chega ao cúmulo de não aceitar , você ser simplesmente você, nada mais nada menos.
Certas casas são enfeitadas por uma Cerca – o cara só pode ser neurótico- que diz: Cuidado: Cerca eletrificada.
Outras Cercas servem para esclarecer: A partir daqui é proibida a entrada, propriedade particular. Ora bolas, até onde estas Cercas vão humilhar o ser humano? ...e tratá-lo como algo descartável?
Por registro de fotos, vemos àquelas Cercas mortíferas usadas nos campos de concentração, durante o Holocausto.
Dentro dos hospitais é bem claro esta Cerca, basta ver os tratamentos diferenciados em pacientes de quartos particulares e os da enfermaria.
Na justiça, a Cerca chega a ser obscena, seja em âmbito Estadual, Federal ou Municipal .Nem é bom citar.
Alguns pais criam uma Cerca intransponível aos filhos. Para estes conseguirem derrubá-la, somente através do confronto direto, ou dizerem bye bye: vou para outras paragens.
Que diabo de Cerca é esta que aprisiona o homem? Porquê não tentar derrubá-la?

Miquito Mendes !!!

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Um homem sossegado !!! ( Parte 3 ).












A cidade Bemaventurança estava animada e um bafafá danado. Chegou um grupos de pesquisadores e técnicos, pra fazerem um estudo sobre as águas da região.Um destes locais escolhidos para as pesquisas foram as terras do Zé Bananeira.
Encostaram o carro na frente de sua casa, deram uma buzinada, o Zé Bananeira apareceu e foi logo dizendo:
- É muita falta de educação buzinar na frente da casa dos outros.
- Aceite nossas desculpas, por acaso é o Sr. Zé Bananeira?
- Perfeitamente, respondeu, levantando o chapéu e passando a mão no cabelo.
- Qual o motivo da visita se é que é visita?
- Sr. Zé Bananeira, somos pesquisadores credenciados junto ao governo Federal, estamos fazendo em Bemaventurança uma pesquisas das águas, o Sr. poderia nos dar permissão de fazermos esta pesquisa em suas terras?
- Desde que não façam bagunça e deixem os apetrechos nos seus lugares. Não gosto de bagunça e nem de atrapalhadas, vocês podem notar aqui, cada coisa ocupa seu lugar. Faço questão da organização, sou um homem caprichoso e sossegado. Agora que vocês já sabem, vamos entrar e tomar café.
A sala de visitas da casa do Zé Bananeira media mais de cem metros quadrados. Todos sentaram-se, na mesa além do queijo, geléias e pão de queijo.
- Estamos conversados?
- Sem dúvida...sem dúvida, Sr. Zé Bananeira, respondeu o chefe da equipe.Quantos alqueires de terra o Sr. tem?
- Nesta eira de terra, começando da casa, passa dos duzentos alqueires.
Passou um ano e três meses, mais vinte um dias, da visita dos técnicos.

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Chegou primeiro, na barbearia, Jayme Rosinha. Guidinho foi logo perguntando:
- Como foi à semana, Jayme Rosinha?
- Nos trinques, Guidinho, e estou sempre ao seu dispor.
Foi chegando a turma. Paulo Salaminho, como sempre, fazendo piadas com os outros.
- E, aí, Breu, é verdade que àquela loirona encanou em você? Diz o ditado, que loira gosta de gente de cor!
- Verdade, Paulo Salaminho, por isso sua mãe não me deu sossego, em vida!
O restante da turma chegou com a Maria Cintura Fina , bem como o Zé Bananeira com o Juvenal Ciriema , seu compadre , que havia sido operado de hérnia . Não existia na vizinhança , melhor domador de cavalos do que ele , um dia Juvenal Ciriema levou um coice no saco , de lá mesmo foi direto para o hospital operar sua hérnia de muitos anos.
João Barbinha , o homem que fazia jogo de bicho na cidade , vestia uma camisa tão colorida que parecia um cigano. Nos dois dedos minguinhos de sua mão sobressaiam àquelas unhas compridas que deviam medir uns 3 centímetros . Unha tratada com carinho e muito limpa . Mas que era esquisito era sim. Aproximou - se de todos e cumprimentou :
- Bom dia pra todos que estão aqui e os que não estão !
Roda pronta , cada um pegou os palitos e começaram a jogar. Na primeira rodada , Maria Cintura Fina ganhou , deu aquele sorriso gostoso aparecendo um dente de ouro .
Na segunda rodada o Pedro Fera ganhou , o lance estava em dez reais . Ficou tão alegre que disse :
- Deus tarda mas não falha .

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- Zé Bananeira , você foi peitudo, fez no peito e na raça o quebra – mola na frente da sua casa .
- Jayme Rosinha , eu . . .
- Ao seu dispor !
- Pelo amor de Deus homem , pára com este negocio , toda vez que te chamo você diz: ao seu dispor !
- Ara , Zé Bananeira , respondeu meio bravo Jayme Rosinha .
- Fiz o quebra – mola , gente , na rua da minha casa, parecia pista de corrida de carro . Um barulhão dos diabo . Gosto de tranqüilidade , sou um homem sossegado .
- Os homi da lei não foram lá te encher o saco , Zé Bananeira ?
- E se tivesse ido Paulo Salaminho , eu não parava nem que o mundo desabasse . Não sou homem de ir contra as leis , mas não gosto de ser enganado . Aí , perco as estribeiras , mas continuo , por dentro , um homem sossegado .
- A verdade é uma só , seu Zé Bananeira, se as autoridades não olham pra gente , nós temos que ter atitudes , veja que vergonha é o nosso vereador Chico Abistenho .
- Perfeitamente , João Barbinha, a obrigação deles é velar para o bem do povo , e se não acontece o povo fica sem guarida . É o povo quem paga com sacrifício os impostos , nada mais que merecido o povo ter tranqüilidade, e sossego na vida .
Zé Bananeira foi interrompido:
- Trouxe um bolo fatiado de fubá pra vocês , Zé Bananeira .
Era a Carminha , usando um óculos com lentes grossas , cabelo tingido de castanho , com um vestido de cor alaranjada . Usava ainda , um sutiã, que dava impressão de ser pequeno demais para o tamanho dos seus seios . Chegava a chamar atenção.
- Ô Guidinho , arruma uma cadeira , pediu o Breu, pra colocar o bolo . A cadeira ficou encostada ao lado da entrada do salão da barbearia .
O bolo veio cortado em fatias quadradinhas , com canela em cima misturada com açúcar cristal . O café veio no bule de dois litros , sendo quê , no bico dele , um paninho vermelho encaixava até o fundo impedindo a entrada de moscas .
Todos agradeceram a Carminha e ela rumou pra casa .
- Mulher boa , tranqüila e sossegada , comprade Quinzinho !
- Verdade... é verdade , comprade Zé Bananeira , mas cá entre nós, se abusar vai inteirar cem anos de namoro !
- Pra quê pressa , comprade Quinzinho . A pressa leva a gente prô buraco , não tenho pressa pra casar com a Carminha e nem ela comigo , somos duas pessoas sossegadas.
- Quem vai participar de outra partida , gritou Fala Fino .
Todos estenderam os braços e com as mãos fechadas , foram cantando . Fala Fino abriu a mão com três palitos , Maria Cintura Fina ia de mão limpa , Zé Bananeira um palito e assim por diante até chegar no Barbeiro . Pela segunda vez , Maria Cintura Fina ganhou .

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- Compadre Zé Bananeira, quer dizer que desta vez a coroa do Santo Reis ficou em sua casa ?
- Com as Graças Divinas do Santo Reis , compadre Juvenal Ciriema , peguei sim a coroa . Sou um devoto deles , Deus me dando vida e saúde vou fazer uma festa muito devota e sossegada . Quero , compadre , que a metade da nossa cidade Bemaventurança apareça na festa . Homem temente a Deus que sou , garanto que vai ser uma festa de fartura até não poder mais , e muito sossegada .
Enquanto conversavam , chegou Maria Bela , com sua neta , trazendo uma bolsa . Todos a cumprimentaram e foi logo pegando um pedaço do bolo .
- Hoje , vim aqui seu Zé Bananeira , pois ouvi uma conversa que o Guidinho , Fala Fina e Paulo Salaminho me desafiaram num calango .
Zé Bananeira ouviu com muita atenção . Maria Bela abriu a bolsa ,tirou uma sanfona de oito baixos , deu um tom nela que deixou a turma ouriçada . Colocou a perna esquerda no meio fio do passeio , ajeitou a sanfona no colo , e fez o desafio . Fizeram uma roda em volta da Maria Bela , do Guidinho , Fala Fina e Paulo Salaminho . Não deu nem pra sentir o gosto , Maria Bela acabou com os três em poucos minutos , recebendo uma salva de palmas .
Por fim, Maria Bela tocou uma valsa chamada Antigas Cartas . Breu acompanhou Maria Bela no dueto .
- Participa duma rodada Maria Bela ?
- Não precisa nem perguntar , Jayme Rosinha , faz um tempão que não jogo porrinha .

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- Seu Zé Bananeira , eu ando nos quatro cantos da cidade fazendo jogo de bicho , ouço todo mundo dizer que o Sr. vai ser o novo Delegado de Bemaventurança .
- Quem disse , João Barbinha ?
- Dizem Seu Zé Bananeira que a voz do povo é a voz de Deus ! Falou sorrindo .
- Ou do Satanás , João Barbinha! Onde se ouviu sair um assunto deste sem eira nem beira . . . Vou prender meus amigos ? . . . Começando por você , João Barbinha, quando enche a cara perturba todo mundo. Já disse e repito , sou um homem que gosto de tranqüilidade e sossego em minha vida.

O Barbeiro Guidinho com a tesoura na mão , palpitava em todos os assuntos e voltava para o salão .
- Compadre Zé Bananeira , chegou nos meus ouvidos a seguinte pergunta :
- Qual pergunta , compadre Quinzinho ?
- Perguntaram compadre Zé Bananeira, se era verdade , aí eu disse que não era e nem que era , que o compadre foi convidado para um cargo de confiança na Prefeitura de Bemaventurança .
Zé Bananeira pensou um pouco , tirou o chapéu da cabeça , alisou a volta dele todo com seus dedos calejados , e respondeu :
- Compadre Quinzinho , me conhecendo como me conhece destes anos todos , o compadre acreditou ?
- No fundo , no fundo , compadre Zé Bananeira, por tudo quanto é mais sagrado não acreditei .
- Tá vendo , compadre Quinzinho , como o povo desta cidade é fofoqueiro ? Aliás e à propósito , eu acho este prefeito um bunda mole , já disse na cozinha da sua casa , lembra compadre ?
- Lembro como se fosse agora , compadre Zé Bananeira !
- Não sou homem de duas palavras compadre Quinzinho – a turma prestava atenção na conversa , lá entre eles torciam para o Zé Bananeira entrar na prefeitura , quem sabe poderia sobrar um empreguinho daqueles que só precisa bater o cartão de ponto e ir embora ? – Como dizia , compadre Quinzinho , é mais fácil galinha criar dentes do que eu ser empregado na prefeitura . Dinheiro nenhum do mundo , paga uma vida sossegada .
- Vamos de outra partida, gente ? Gritou o Pedro Fera . Foi acabar de falar, o Sérgio Mala apareceu , a turma toda ficou encarando ele .
- Parece urubu atrás de carniça , este Sérgio Mala , falou Paulo Salaminho .
E o jogo continuava junto com a prosa muito animada . Levaram um susto com um grito na porta da Barbearia .
- Falta de respeito , Guidinho , é a primeira vez que venho cortar cabelo aqui , a primeira impressão é a que fica , você é um sujeito sem compromisso me deixando aqui , feito um bobo , nesta cadeira caindo aos pedaços .
O freguês ficou tão nervoso que começou a chutar as cadeiras , quando ia quebrar o vidro da barbearia a mão do Zé Bananeira segurou forte seu braço , puxou o rapaz de lado e disse :
- Vai embora pra casa , meu jovem , fica tranqüilo e sossegado .
- Não gosto de atender gente inconveniente, disse o Barbeiro . Freguês deste naipe nem que pague com ouro , eu quero.
Maria Bela começou a cantar uma música baixinho , Maria Cintura Fina deu um suspiro .
- Ah , meus tempos – e deu outro suspiro forte e carregado olhando o Zé Bananeira . Lembra aquele baile na minha casa ?
- Como poderia esquecer, Maria Cintura Fina, respondeu meio desajeitado o Zé Bananeira .
- Lembra também da rede que armei pra você perto do rio . . . você gosta de ouvir o barulho das águas !
- Dentro do meu mais querer , nunca esqueci na vida aquele dia . Vi o sol nascendo meio preguiçoso , e daquela rede eu apreciava a beleza do nascer do sol tranqüilo e sossegado .
Guidinho ajeitou o salão com a ajuda do Jayme Rosinha . Logo tudo voltou ao normal .
E mais outra rodada de porrinha . Desta vez , Breu , com o palito no canto da boca,sorridente , ganhou a partida .
Jayme Rosinha e Fala Fina começaram a cochichar .
- Homem que fica cochichando tá conversando com o demônio , apontou com o dedo , João Barbinha, e aproveitou pra examinar suas unhas . Foi até o salão da barbearia , pegou uma lixa e passou naquelas unhas imensas com carinho tão especial igual de pai pra filho .
- Compadre Zé Bananeria , ficou acertado com a família do Rosasargento que o compadre vai ser o tutor dos filhos dele ?
- Arrumei outro pra ser o tutor , um homem da minha total confiança , compadre Juvenal Ciriema . Mexer com dinheiro alheio é muito arriscado . Prefiro ficar no meu canto , sossegado !
Jogaram mais de quatro partidas de porrinha . Maria Bela voltou a tocar sua sanfona , vermelha , de oito baixos .
Na esquina , distante uns duzentos metros da turma , um homem bem vestido de terno e gravata , embora sua vestimenta demonstrasse que já havia sido usada muitas vezes ao longo dos anos . Sua aparência transmitia respeito .
- Bem pessoal , tá na hora de ir embora .
- Fica mais um pouco, Zé Bananeira !
- Nem que a vaca tussa , João Barbinha , tenho lá meus compromissos , e , de mais a mais , prefiro mesmo ficar lá em casa sossegado .


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Após Zé Bananeira desaparecer de vista , o homem de terno chegou e foi logo dizendo para o pessoal :
- Vim aqui , hoje , pra atender o pedido de um amigo que é assunto de máxima urgência , vamos arrumar um lugar pra todos sentarem e prestarem muita atenção .
A turma ficou encabulada . Maria Bela estendeu o braço pra despedir da turma , mas foi impedida .
- D. Maria Bela , a Sra. precisa estar aqui , junto com todos , é muito importante .
- Sr. Neném Estafeta , tá na hora de ir embora pra dar comida pra minha neta que está com fome .
Neném Estafeta aposentou-se no correio . Homem entendido de leis e contabilidade .Homem que sabia o segredo de muita gente , iam em sua casa contar as desavenças da vida ou da família . Homem de poucas palavras , só falava o necessário .
- Sr . Guidinho , pode arrumar umas cadeiras pra todos sentarem dentro da barbearia ?
- Perfeitamente , Sr. Neném Estafeta . . . perfeitamente .
- Sr . Guidinho , se não fosse lhe pedir demais , devido a urgência do assunto , o Sr . poderia fechar a porta da barbearia ?
Pedido feito , pedido atendido . O barbeiro desligou o rádio e ficaram olhando aquele homem com a pasta preta , desbotada , segura em sua mão esquerda .
- Estou aqui à pedido do Sr. Zé Bananeira . Como vocês devem saber ou lembrar , faz mais de um ano , aqui em Bemaventurança vieram uns técnicos pesquisar nossas águas . Vocês estão lembrados ?
Houve um silêncio . Pensaram um pouco e todos lembraram realmente daquela gente .
- Nas terras do Sr . Zé Bananeira , foram descobertas vários tipos de águas minerais , os técnicos disseram que as águas da terra dele estão entre as melhores do mundo !
A turma ficou agitada e começaram a falar entre eles .
- Silêncio , por favor . Preciso terminar o que me foi incumbido de fazer .
A turma ainda continuava agitada .
- E o quê compete a nós , Sr. Neném Estafeta , a descoberta destas águas , perguntou o Fala Fina , com a concordância do Jayme Rosinha , e do Breu .
- Acontece quê , o Sr. Zé Bananeira negociou com os técnicos que irão explorar a àgua mineral em suas terras .No contrato reza que cinqüenta por cento pertencem aos técnicos e os outros cinqüenta por cento são do Sr. Zé Bananeira .
A pasta foi aberta e o Sr . Neném Estafeta mostrou um pacote de folhas grampeadas .
- Aqui, meus Senhores , neste contrato , o Sr. Zé Bananeira deu uma percentagem pra cada um de vocês .
- O que significa uma porcentagem pra cada um de vocês ? perguntou , sério , Juvenal Ciriema.
- Significa que cada um de vocês, aqui presentes , incluindo eu , somos donos de quase a metade dos cinqüenta por cento das águas minerais que competem ao Sr. Zé Bananeira . Segundo suas palavras , sou testemunha, ele tem tudo que precisa na vida e achou justo dividir com os amigos dele e com outras pessoas de Bemaventurança , esta riqueza que não é dele , e sim, da terra .
Neném Estafeta acendeu um cigarro , pediu um copo de àgua ao barbeiro e continuou :
- Já foi lavrado no cartório e registrado , a partir de hoje , vocês são donos da fonte de água mineral nas terras do Sr . Zé Bananeira .
Em seguida , Neném Estafeta , foi para o cartório de registro de nascimento .
- Sra. Biluca , esta procuração me foi passada , como a Sra. bem pode ver , pelo Sr . Zé Bananeira . A partir de hoje, toda a criança que nascer em Bemaventurança , durante um ano seguido , a Sra. por favor , faça a certidão de nascimento e mande a cobrança pra minha casa.
Tudo acertado no cartório , o procurador entrou no carro , e parou ao lado de um curral .
- Aqui está uma lista de pessoas , chova ou faça sol , o Sr. deverá entregar dois litros de leite pra eles,todo o santo dia, e a conta , no primeiro dia de cada mês, venho aqui, pessoalmente fazer o pagamento !


Miquito Mendes !

domingo, 20 de fevereiro de 2011

Estes juristas ...



Nosso judiciário tem passado por cada solavancos que nos deixa boquiabertos, sobretudo, nós, leigos. Tivemos um ex-presidente da Suprema Corte, Gilmar Mendes, com ligações abertas com o empresário e banqueiro Daniel Dantas, chegou ao cúmulo de suspender por duas vezes uma ordem emitida por um Juiz Federal decretando sua prisão,sem as devidas explicações ou uma explicação de acordo COM SUA CONVENIÊNCIA.
Um juiz, em Búzios, abusou de sua autoridade e fez o que fez, logo o cara que deveria servir de parâmetro.

Li um artigo formidável, escrito por Lenio Luiz Streck e Vicente de Paulo Barreto. Este artigo deveria ser mostrado em cursos de direito, mostrar aos futuros advogados os paradoxos das leis elaboradas por nossos Juristas.
Um pequeno trecho do artigo: Se para o primeiro tráfico há um desconto de 2/3 da pena, por que não aplicar para o primeiro furto? Veja-se: tráfico é crime hediondo, estrupo também é, logo, por que razão um crime hediondo recebe um tratamento mais benigno que qualquer outro da mesma espécie? AFINAL, O PRIMEIRO CRIME MERECE COMPLACÊNCIA, CERTO? POR QUE NÃO A PRIMEIRA CORRUPÇÃO, O PRIMEIRO ESTUPRO, O PRIMEIRO HOMICÍDIO, A PRIMEIRA TORTURA?

Cinema: 400 contra 1- A história do Comando Vermelho !!!



Filme lançado já algum tempo, mas é sempre bom, discuti-lo. Mostra a união dos presos na Ilha Grande, a situação dos presos políticos que pedem uma ala separados dos presos comuns, seus argumentos baseiam no fato que são presos políticos e por tal, merecem um tratamento diferenciado.

Os presos comuns, possuem uma união de vida e morte, e passam a organizar-se de uma forma surpreendente, através da leitura dos livros que os prisioneiros políticos emprestam-lhes. Assaltam bancos , cuja finalidade é arrecadar dinheiro para retornarem ao presídio e soltar seus amigos. Por ironia, estes assaltos são vistos pela ditadura dos generais como sendo de subversivos !

Excelente filme !!!

Cinema: ABRUTES !!!



O cinema Argentino passa por uma fase excelente, e pra comprovar temos o filme ABUTRES do diretor Pablo Trapero. Filme que conta a história dos acidentes de trânsitos, embora o filme ,na verdade seja a temática dos advogados ligados à máfia da saúde, vide seguros. Nem bem acaba se acontecer um acidente, logo chega o advogado ao hospital, deixa seu cartão, e convence os familiares ou a propria vítima caso tenha sobrevivido a entrar na justiça. Existe aí uma ligação de informações que sai do hospital e chega até aos escritórios de advocacia. O filme chegou a causar impacto no pais de origem Argentina, sobre as leis de trânsito.

Bom filme !!!

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

A menina que queria ser uma Coca Cola !!!















Ela estava dentro do ônibus, indo para São Lourenço. Tráfego intenso, junto com suas amigas, percebeu na frente do ônibus um caminhão vermelho, chamou de cara sua atenção, só podia ser a Coca Cola.Deu aquele gritinho característico seu que as amigas conheciam muito bem.
- Graças a Deus, olha lá gente, um caminhão da Coca Cola ! Deus é tão bom por ter feito a Coca Cola!
Suas amigas riam e faziam piadas.
- Lu, Você gosta tanto assim de Coca?
- Sou apaixonada...gostar é pouco, Mariana, eu amo a Coca Cola, se eu ficar um dia sem beber....
- Chega neste ponto, Lu? Você não passa um dia sem beber Coca?
- Já fiquei sim...um dia não tinha dinheiro pra comprar.
O ônibus ultrapassou o caminhão da Coca Cola, Lu olhou, e viu aquele caminhão ficando lá atrás, e repetiu:
- Graças a Deus, existe a Coca Cola !
Lu beirava os treze anos, logo ia completar quatorze, aproximava seu aniversário. Ágil na moto, vivia dando rolé na policia. Fazia barbaridades naquela motinha. Quando reunia com suas amigas motoqueiras, para acamparem, ao fazer a vaquinha pra comprarem os lanches, Lu dizia:
- Não esqueçam da Coca Cola.
Se ia à uma festa, a primeira coisa que perguntava era:
- Onde está a Coca Cola?
Numa destas festas, serviram todos tipos de refrigerantes, quase todos, Lu foi até a mesa onde estavam os vinhos, cervejas e whiskys, e ao lado os refrigerantes, e procurou, mas cadê a Coca Cola? Fez o seguinte, foi até um bar na moto, comprou uma lata, e retornou para a festa.
Quando assistia as aulas, de manhã, dentro da bolsa, lá estava a famosa latinha. Existiam dias, e muitos deles, que a lata estava pela metade, outro dia, sem dinheiro, para economizar a Coca, levava para o colégio menos que dois dedos do precioso líquido.
Aula de português. A professora pediu uma redação, cada um podia escolher seu tema. Lu foi motivo de piada na sua sala e até em todo o colégio. Disse a professora, brava:
- Lu...sua redação é sobre Coca Cola? De cima em baixo você não escreveu uma linha sequer que tivesse sentido. Apenas citou sem parar, o real significado da Coca Cola em sua vida. Sua vida se resume a isso? Que lástima, meu Deus !
Lu abaixou a cabeça, os colegas começaram a rir, e faziam a seguinte gozação em coro:
- Lu Coca Cola !
Continuou a professora:
- Você vai ficar de castigo, e fazer outra redação. Preste atenção: enquanto não ficar pronta você não vai embora, mesmo que seja preciso ficar sem almoçar ou até tarde da noite. Entendeu?
Lu foi levada para uma salinha separada e sozinha. Olhou àquelas cadeiras, perdeu-se em pensamentos, levou um susto, a professora parecia uma bruxa má, estérica ordenou:
- Não se esqueça, Donzela Coca Cola, enquanto não ficar pronta sua redação, se for preciso você dorme aqui, mas tem que me entregar e fechou a porta enfurecida.
Lu abriu a bolsa, ainda restava um tiquinho de Coca. Deixou dentro da sua boca por longos e deliciosos minutos. Virou novamente a latinha na boca, esperando um milagre, quem sabe teria mais uma gotinha escondida lá dentro?
Lu começou fazer a nova redação. De vez em quando parava, batia no fundo da latinha e levava à boca, o milagre não acontecia. Quanto à redação ia fundo, logo ficou pronta. Foi até a sala onde os professores se reuniam e entregou a redação para a bruxa. Esta leu atentamente, seus lábios se contorciam, no canto deles apareciam espumas brancas.
- Dona Lu? Vamos direto para a sala do Diretor. E pegou brutalmente o braço dela, da pequena Lu, quase que a arrastando.
O Diretor sentava numa poltrona de encosto revestida de couro.
- Aqui, Diretor, a redação desta marmanja !
O Diretor olhou para as duas e pediu:
- A Sra. pode largar o braço da nossa aluna?
A bruxa prontamente atendeu. Com muita calma, ele foi lendo, antes havia ficado em pé, andando pra lá e pra cá com a redação em suas mãos. Voltou a sentar e perguntou:
- Muito bem, Lu, você não conseguiu ou não quis mudar de tema? Existem tantas opções, você pode escrever sobre seus amigos e amigas, dos lugares que você já conheceu. O que me diz, Lu?
- Ela faz de burra, Sr. Diretor, o objetivo dela é zombar de mim, exijo respeito à minha pessoa sendo profissional como sou.
- Calma, pediu o Diretor !
- Que esta menina, Sr. Diretor, fique de castigo durante um mês, no mínimo, cumprindo duas horas, após o término das suas aulas.
- Professora Esmeralda, a Sra. não tem que exigir nada. Quem decide sou eu. Por favor, queira se comportar.
- Diretor, pelo jeito o Sr. não leu atentamente o que ela escreveu, as aberrações da cabeça dela, e teve a petulância de dizer-me que é uma redação.
- E não é,uma redação, Professora Esmeralda? Se a Sra. acha que não li com atenção, então vou ler em voz alta, aí todos nós teremos certeza.
Pegou a redação, fez uma expressão irônica, levantou da cadeira, aproximou-se das duas, e começou a ler:
“ Eu, Lu, na oitava série, faço minha redação com a maior sinceridade. No momento não me vem à cabeça, outro assunto, que não seja este, espero que a professora D. Esmeralda possa me entender, caso contrário, sofrerei as conseqüências. Pois tenho certeza, não só eu como meus colegas, que ela não gosta de mim. Mesmo assim, farei minha redação como acho que deve ser feita.
- Adoro Coca Cola,
-Almoço somente com Coca Cola,
- Estudo bebendo Coca Cola,
- Assisto as aulas, e sem os professores perceberem, bebo Coca Cola,
- Vou à missa todos os domingos, dentro da Igreja, tiro da bolsa, a latinha de Coca Cola,
- Quando vou lavar o cabelo, ao lado do Box, deixo uma lata de Coca Cola,
- Assisto desenho animado comendo pipoca e bebendo Coca Cola,
- Quando não tenho dinheiro, compro fiado,
- Ao deitar, e fazer minhas orações, antes de dormir, tomo um gole de Coca cola.
E o Diretor foi lendo. Ao terminar, colocou a folha em cima da mesa, sob o olhar atento da bruxa, caminhou em frente à sua mesa, foi até um mapa mundi preso à parede, olhou, pegou outra vez a folha da redação, devolveu rapidinho à mesa.
- A Sra. ouviu, professora Esmeralda? Prestou atenção quando eu lia?
- Perfeitamente! E qual sua decisão, Sr. Diretor?
- Que a Sra. saia imediatamente da minha sala, por favor. Você, fica, Lu !
O Diretor mexeu entre os dedos um lápis por alguns segundos e perguntou:
- Lu, qual profissão você quer seguir, ou o que você quer ser, quando ficar adulta?
- Quero ser, Diretor, uma Coca Cola !


Obs: Dedico este texto, à minha filha querida, Raquel, que até hoje ama a Coca cola.

Miquito Mendes !!!

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

O Jarro e você !!!


















Cristalino és tu...
Não é a água,
Tão pouco seus olhos.
Apenas aquele jarro de cristal,
em cima daquela mesinha.
Fico olhando,
E se ele cair?
Partir em mil pedaços?
Jamais voltará a ser como antes,
Mesmo que você ,
Passe anos tentando colar,
Pedacinho por pedacinho,
Nunca voltará a ser o mesmo.

__________//_________

Me diga ...

Caso você ame uma mulher,(vou exagerar) desesperadamente,
Se...se...um dia ela tiver um caso com outro homem,
e frente à frente com você, te contar,
O seu relacionamento com ela,
voltará a ser como antes?
Você vai perdoar em nome deste amor?
Seu coração seria demasiado
grande e forte pra aceitar e entender?
Ou , numa das hipóteses,
que vive sempre acontecendo,
vai fazer de conta que não houve nada?
Você se recusa aceitar esta possibilidade?
E,
Consigo mesmo diz:
- Não houve nada.
Você, então, usa de um meio surreal para defender-se e fugir de uma realidade que te devora por dentro. Recusa aceitar...e sua mente , sacana, te ajuda nesta defesa.
Ou,
Poderá ser como um jarro de cristal quebrado,
Que jamais voltará a ser como era?
A vida prossegue. Momentos existem que coloca ambas as mãos em cimas das orelhas, aperta, e repete sem parar:
- Ela está brincando, meu amor jamais faria isso comigo. É impossível, chega a doer meu peito de imaginá-la nos braços de outro homem. Sim...sim...ela brincou comigo, somos um casal perfeito, no dia-a-dia, como na cama.Porquê ela fez este tipo de brincadeira? Será que é pra testar se sinto ciúmes dela?
Ele aperta novamente seus ouvidos. Seu ar é de angústia. De repente ele sorri:
- Taí, eis a resposta, ela me ama tanto que inventa estas situações sobre ter tido relações com outro homem, quer ver minha reação, se vou ficar bravo, brigar com ela....ela é tão doce e meiga. Vou conversar com ela, e agora mesmo.
- Meu amor, não preciso dizer o quanto te amo...
- Claro que não precisa dizer, eu sei...e como sei...
- Porquê você inventou sobre ter tido uma relação com outro homem? Tenho certeza que você quis me testar....queria saber se eu sentia ciúmes de você..sinto ciúmes sim, e muito.
Ela olhou bem nos olhos dele, pra não deixar margem de dúvidas e falou:
- Eu não inventei nada. Você é quem está inventando estas coisas de ciúmes !
- O quê? Não estou criando nem inventando, senti um ciúme de você que é impossível definir. Seja sincera, você queria me testar...
- Testar?
- Sim, testar, você queria ter certeza absoluta que sou sincero em nosso casamento e que ainda te amo, concorda?
- Pela última vez vou dizer: Eu sei que você me ama, o que você não entendeu ou fez que não entendeu, é que durante estes anos todos a rotina de nossa vida ficou insuportável pra mim. Quis fazer novas experiências, mudar, testar, testei e adorei fazer coisas novas e totalmente diferentes com outro homem !!!

Miquito Mendes !!!

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Já aconteceu com você???















De sentar pra escrever, super concentrado, neguinho chega e diz:
- Me empresta o isqueiro?
Puto da vida, estende a mão e nem olha pra pessoa. Você parou no meio de um diálogo importante, com o seu personagem. Pronto. Ainda continua puto da vida, dá um tempinho, tenta relembrar as cenas e situações onde foi interrompido. Devagar, por cima... por cima, finalmente, vai lembrando.
Pra evitar estas situações, você declarou guerra sem dó nem piedade ao telefone, por uns tempos ele foi o inimigo número um em sua vida. Agora tá livre.
Vem o estalo e a história volta a ser escrita, vai deslanchando, momento precioso pra quem escreve, os personagens vão se encaixando, tomando forma. Daí quê, porra, neguinho chega e na maior cara de pau vai logo falando:
- Onde está a chave do carro? Ah, você está escrevendo, nossa, não cansa não de escrever?
- Puta quiu pariu , você pensa.
Sua mente fica pertubada e turbinada por maus pensamentos, em segundos você deseja tudo pra esta pessoa, que aconteça com ela....sabe-se lá...quem sabe quebrar uma perna? Ou, tomara que o carro estrague, ou a polícia a prenda por infringir o sinal...tomara tudo.
Seu colesterol, pressão e glicose tá explodindo. Daqui ouve o barulho daquele maldito carro, ainda bem...vai me deixar em paz, dá um suspiro, ih, desligou o carro.
- Tem gasolina o carro?
Você dá de ombros.
- Por acaso, você , de repente, ficou sem visão, tá cega? Vai ao médico, pô.
- Mau educado !
Você dá de ombros novamente.
Na altura da situação, àquela possível história, que estava ganhando contornos foi prô saco.
Não há meios de desenvolvê-la. Mas vai fazendo tentativas...esforçando...putz...consegue retornar o fio da meada. Sua cabeça cria três ou quatro diálogos e cenas à frente. Concentrado manda brasa. Aí, outra voz:
- Ô pai, um minutinho, se não fosse tão importante, eu não ia te incomodar.
Como pai, logo pensa o que há de pior.
- O que aconteceu, pergunta aflito.
- Está indo uma galera passar o carnaval em Cabo Frio , me arruma dinheiro pra ir junto?
Você pára. Fica igual uma estátua na cadeira. Passa suas mãos no rosto, e mais outra...e mais outra....pra ficar livre, levanta o dedão em sinal positivo. Não quer falar, não pode, senão vai mandar pra aquele lugar.
- Beleza, Pai !
Você levanta da cadeira e vai até a janela e deseja: Tomara que esta galera seja presa no carnaval, e dá àquela risadinha imaginando a cena...Diz em voz alta:
- Vou encerrar por hoje, puta merda.
Lá dentro de você, algo te empurra, determina, volte para àquela cadeira e continue a escrever.
Se usa computador é bem possível que delete o que conseguiu escrever. Se escreve em papel sulfite, você pega elas, cheio de raiva, e faz picadinho. Muda o tema, outra história, outro contexto, outro tudo é o que deseja.
- Merda, grita !!!

Miquito Mendes !!!

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Gostaria de escrever...mas sobre o quê???















POIS:

Garcia Lorca escreveu
Às 5 horas da tarde,

Dostoievski : Crime e Castigo,

Guimarães Rosa: Grande Sertão e Veredas,

Charles Chaplin: Escreveu o discurso do filme O Grande Ditador,

Chico Buarque: Cálice,

Noel Rosa: Rabiscou em mesa de boteco centenas
de poemas maravilhosos.

Carlos Drummond nem se fala,

Èmile Zolá: Abalou o Parlamento Francês com um manifesto escrito por ele sobre as injustiças cometidas pelo Exército deste País contra um Capitão,

Adoniram Barbosa: Trem das Onze,

Victor Hugo: Chamou atenção do mundo com a obra Os Miseráveis.

John Steinbeck: Com As Vinhas da Ira,

Marcia Cabrita: Num pequeno texto, chamado “ Viva o Luto” citou sua experiência brutal num tom lírico e dramaturgo.

Plínio Marcos: Dois Perdidos Numa Noite Suja .

Einstein: Chamou-me atenção não pela Teoria da Relatividade, mas sim pelo que escreveu, sobre a Estupidez Humana Ser Infinita.

Dom Oscar Romero: Em seus discursos e homílias levava esperança à um povo sem esperanças.

Simón Bolívar: Escreveu sobre o significado da Independência.

O Cacique indígena Seatle: Em 1854 escreveu uma carta ao presidente dos EUA dizendo a importância da terra de seus ancestrais.

Freud: Sobre a “ idade da inocência”.

Sêneca – Roma 60 d.C: A alegria e o riso, com excesso, podem incomodar os invejosos.

Cícero- Roma 43 a. C: Se você quer a PAZ, prepare-se para a guerra.

Luiz F. Veríssimo: Velhinha de Taubaté .

ZÉ Ramalho: A Terceira Lâmina !

Quanto a mim...bem...bem...depois do que estes caras escreveram, só me resta fazer o seguinte: Vou arrumar um daqueles livros com cartas de amor, copiar, envelopar, ah, tenho que achar alguém para destiná-la, e despachar pelos correios e telégrafos!

Miquito Mendes !!!

domingo, 13 de fevereiro de 2011

Ah, se a vida pudesser ser assim....
















Ficar debaixo daquela sombra
Quanto tempo quisesse.
Fosse eu algumas pessoas ao mesmo tempo.
UMA DELAS:
Ficasse sentado,
numa cadeira de balanço
matutanto sobre tudo....

OUTRA:
Batalhando pra criar um texto,
E,
Sair pelo mundo fotografando,
QUEM SABE:
Fazer parte de uma banda
E tocar naquele coreto.
FAZER SOMENTE:
Apenas e apenas o que
Bem entendesse da minha vida.
TALVEZ:
Procurar caminhos somente
Desconhecidos por mim.
EVITAR:
Cair na mesmice.
NAQUELA MADRUGADA:
Fazer várias serenatas ...
PERCORRER:
Caminhos emocionantes
e arriscados.
PEITAR:
O perigo....
CHEIO DE EMOÇÃO:
Chorar a vontade sem
sentir-se envergonhado.
VIVER:
Sem lembrar do passado,
Esquecer que existe o futuro,
Dane-se o presente,
Deixa rolar a vida.
NÃO SENTIR:
Culpa por nada, não se cobrar,
E nem se reprimir.
FICAR SURDO:
Com as idiotices e
Cobranças no dia a dia.
ELA PASSA:
Você diz: psiu !!!
PODER TER:
Várias amantes.
Ser ou não ser amado por elas,
Pouco importa.
DANÇAR:
As Roas Não Falam,
De Cartola !
ENFIM:
Será que podemos ser tudo
O que queremos
Sendo apenas um?

Miquito Mendes !!!

Cinema: CRIAÇÃO !!!




Filme baseado na vida de Charles Darwin, época em que escrevia A Origem Das Espécies. Como sempre, há o embate religião versus ciência, e pra completar, sua esposa altamente religiosa, era um entrave ao cientista. Neste período ele perdeu uma de suas filhas, que deixou-o totalmente obsecado vendo-a em todos os lugares. Não sei até que ponto esta biografia é verdadeira no que se refere à sua filha, me pareceu demasiado exagerado a obsessão pela filha morta.

Uma das partes interessantes do filme quando o Charles Darwin diz: - Minha esposa busca refúgio na religião e eu na ciência, após a tragédia da filha.

Outro diálogo interessantíssimo quando ele diz: Quanto mais me aprofundo nas pesquisas vejo um Deus totalmente incoerente.

Bom filme !!!

Os ventos da liberdade e democracia estão caminhando para os países do Oriente Médio !



Certa vez, Bush filho- só podia ser ele- disse que iria mudar o mapa do Oriente Médio quando invadiu o Iraque. Está mudando sim, porém com outras características. Primeiramente, a mudança ocorreu na Tunísia, quem poderia imaginar que aquele suicidio de um barraqueiro simples e humilde poderia desencadear a queda do regime neste país? Logo após, o vento foi para o Egito e um ditador no poder há 35 anos caiu.O vento continua, por enquanto ele rondando os seguintes países: Argélia, Iêmen e, possivelmente, Marrocos.
Há de se notar, que os dois primeiros países, Tunísia e Egito, ao longo dos dias de passeatas, protestos, todas correntes religiosas estavam unidas, não existiam palavras de ordens contra outros países ou queima de bandeiras estrangeiras, era a união mesmo por um país novo com liberdades democráticas.
Não tenhamos dúvidas que este vento da liberdade democrática irá atingir outros países, é uma questão de tempo. Neste processo todo existe o outro lado da moeda, que é altamente perigosos, como foi o caso do Irã com a subida ao poder de Mahomoud Ahmadinejad um homem totalmente transloucado !

Casa da Morte em Petrópolis, após o golpe militar em 1964 foi um pesadelo Dantesco para os prisioneiros políticos !!!



Toda nação que se preza ou tem um mínimo de respeito para com seu povo,para com sua história, vai atrás da verdade doa a quem doer. Em nosso caso, Brasil, os porões das torturas ocorridas após o golpe militar em 1964.Recentemente, a presidente Dilma fez uso de sua autoridade democraticamente, quando seu funcionário general José Elito chefe do Gabinete de Segurança Institucional falou o que não devia ou falou o que ainda pensa uma ala militar sobre as toruras, bem merecido presidente Dilma Rousseff, o puxão de orelhas neste general.

Em Petrópolis, Estado do Rio de Janeiro , existiu a chamada " Casa da Morte" um centro de tortura. Considerado o pior do País.

Foi descoberto um remanescente daquela "Casa". À época, sargento do Exército Ubirajara Ribeiro de Souza, fez parte dos torturadores e vivinho da silva, hoje com 75 anos.Faz-se necessário, como disse acima, nossa história não pode ser jogada para debaixo do tapete, aliás, a história nunca perdoa ou permite tais atitudes. Existem leis, nosso Judiciário, este ex-sargento Ubirajara deve ser levado aos bancos dos réus e explicar direitinho os pormenores do seu trabalho como torturador, informando onde foram enterrados os mortos daquela " Casa da Morte".A ele também deve ser dado o direito de defesa.

Presidente Dilma Rousseff, ninguém melhor do que Sra.que sabe e vivenciou na pele a exata medida do que foram estas casas. Acione os mecanismo legais que são inerentes a um país democrático e leve à julgamneto em quanto é tempo, este cidadão Ubirajara Ribeiro de Souza !!! deve ser colocado em pauta como prioridade, caso não se tomem medidas e este ex-sargento desapareça ou morra de causas naturais, o país perde uma testemunha chave para nossa HISTÓRIA !

Os países irmãos , sejam da América do Sul- Argentina- Chile e outros mais, puseram sua história à limpo sobre os ditadores e torturadores, CHEGOU NOSSA HORA JÁ ESPERAMOS DEMAIS!

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Um homem sossegado !!! ( Parte 2 )















A roda estava formada em frente à casa do Sr. Quinzote que é cunhado do Quinzinho. Era o velório do primeiro. E, por último, chegou o Zé Bananeira.
O falecido era um homem simples, pai de quatorze filhos. Homem sacudido, não existia na região homem melhor e mais caprichoso que ele na feitura de uma cerca. Das cidades vizinhas era procurado pelos seus serviços. Morreu no estalo, igual passarinho esticando o arame farpado.
Zé Bananeira sentou do lado da urna onde estava a viúva. Por bem dizer deve ter ficado mais de uma hora sentado, ali.

_______//______//_______

Apesar das diferenças de opiniões na turma, as piadas que Paulo Salaminho vivia fazendo em cima do Zé Bananeira, no final das contas era uma boa turma e muito unida.
Procuraram uma sombra naquela árvore que ficava do outro lado da rua do falecido. Foram atravessando a rua em fila indiana.
Breu cochichou com Paulo Salaminho :
- Vamos jogar porrinha mas tem que ser disfarçado, cuidado, cantem a jogada o mais baixo possível, pediu o Breu.
O Tronco da árvore devia ter uns ... uns cinqüenta centímetros de diâmetro. Três deles apoiaram as costas lá, sendo quê, o Fala Fina na ultima hora sentado e apoiado na árvore esticou as pernas e deu uma boa espreguiçada. O restante da turma sentou-se sobre as próprias pernas, posição característica daqui de Minas Gerais, sobretudo, o Sul do Estado,e encostaram na parede da casa, com duas janelas abertas de frente para a rua, teriam mesmo que tomar cuidado para jogar porrinha.
Começaram a partida valendo um real, o limite combinado há muito tempo, para estourar, não poderia passar de dez reais.
Enquanto, como disse, disfarçavam, o entra e sai de visitas não parava na casa do defunto. Chegou o barbeiro Guidinho com uma pequena tesoura no bolso esquerdo da camisa, aproximou da roda, e disse :
_ Vou lá cumprimentar e volto já já, quero participar só de duas rodadas, deixei o salão aberto com o freguês na cadeira.
Naquela mão, Zé Bananeira passou. Seguindo o ritual começou aprontar seu cigarro de palha.
Guidinho tratou logo de arrumar o seu lugar. As rodadas estavam estacionadas no lance de dois reais.
- Pra levar essa na moleza, vou de onze, quase gritou o Fala Fina.
Neste exato momento ouviram uma tosse, todos olharam ao mesmo tempo, D. Rosa, debruçada com os cotovelos na janela, olhava pra eles. Ninguém abriu a mão, ninguém falou nada, uns mexeram de posição, puxaram conversa sobre o valor da pessoa que era o Sr. Quinzote. D. Rosa deu outra tossida e fez um ar como quem diz: que falta de respeito com o falecido. Olharam lá na esquina, um grito chamou atenção deles.
- Seu Zé Bananeira... seu Zé Bananeira?...
O Tião Turco vendedor de bilhetes da Loteria Federal, soltou outro grito:
- Seu Zé Bananeira?
- Aqui, Tião Turco!
- Seu Zé Bananeira do céu, o bilhete que o senhor comprou foi sorteado. Aqui os números da sorte.
A turma olhava para o Zé Bananeira, ora para o Tião Turco, chegou a chamar atenção do pessoal todo lá do velório.
- Vamos conferir os números, seu Zé Bananeira?
- Que aflição é esta Tião Turco, se eu ganhei... ganhei, fica sossegado.
Zé Bananeira mexeu de lado a perna, tirou do bolso traseiro da calça de brim, calmamente, aquele monte de papel. A turma acompanhava, e à medida que o tempo passava com àquela calma toda do Zé Bananeira a turma começou a ficar aflitiva.
- Cadê seu Zé Bananeira? Cadê o bilhete?
- Calma Tião, nossa mãe do céu, aqui no meio tenho conta de luz, de água, uma fezinha no jogo de bicho... Não adianta ficar nervoso. Sou um homem calmo por natureza e sossegado.
Zé Bananeira deu uma cuspida nas pontas dos dedos e começou a separar a papelada. Foi interrompido:
- Cumpadre Zé e todo pessoal, venham tomar café, acabou de sair, gritou lá da casa do falecido o Quinzinho.
- Boa hora compadre Quinzinho, um café pra boca de pito.
Zé Bananeira segurou na mão direita àquele monte de papel, levantou, e foi tomar o café.
- Mas não é possível gente, seu Zé Bananeira não tá nem aí... reclamou Tião Turco quase chorando. Da turma, ninguém teve coragem de tomar café, ficaram lá esperando com o Tião Turco.
- Até que enfim, Seu Zé Ba... Ba... Bananeira, vamos conferir o bilhete.
- Tião Turco... páre de gaguejar homem, a pressa não leva a lugar nenhum. Pressa pra quê? A pressa é inimiga do homem, vamos ficar todos tranqüilos e sossegados.
-Toma Tião, confere. Até que enfim ,pensou o vendedor do bilhete.
Os olhos do Tião Turco pareciam duas bolas de futebol, a medida que ia conferindo os números do bilhete, seus olhos iam ficando mais estalados.
- Não disse... não disse seu Zé Bananeira , o senhor ganhou.
- Ganhou quanto? perguntou o Breu falando pela turma toda.
- O seu Zé Bananeira ganhou cento e setenta mil reais.
Deu a hora do sepultamento. Zé Bananeira pegou o bilhete da mão do Tião Turco, colocou de qualquer jeito no bolso, segurou a alça da urna deixando a turma, o Tião Turco deu um suspiro parecendo que havia ficado com falta de ar. A turma ficou pasmada uns minutos, saíram correndo para alcançar o enterro.
O dia da morte do Sr. Quinzote e da sorte do Zé Bananeira foi numa segunda-feira.
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A notícia, na cidade, espalhou igual ventania. Por onde o Zé Bananeira passava recebia parabéns.
- O novo milionário da praça,
- O quê que você vai fazer com tanto dinheiro?
- Já comprou um carrão do ano?
Zé Bananeira encontrou dois dias depois com o Breu e desabafou:
- Não agüento este povo mais farso que Judas Iscariotes me rodeando, e batendo nas minhas costas...
- Mas Zé Bananeira, você ficou muito rico!
- Isso não é vida, Breu, minha paz acabou. Posso até ficar perrengue da saúde por causa desta confusão da loteria. A única coisa que desejo na minha vida é ficar sossegado!
Breu coçou o queixo, deu uma palitada naqueles dentes brancos e grandes, seus dentes eram tão brancos que dava um contraste com sua cor negra azulada.
- É ... é... Breu não sabia o que responder, conhecia de muito anos o Zé Bananeira e suas manias sistemáticas.
- Breu...
- O quê Zé Bananeira?
- Nada não, Breu, vou indo, preciso descansar minha cabeça e deixar meu coração sossegado.

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Fala Fina resolveu fazer numa tarde, lá na casa do Quinzinho, cinqüenta palitinhos, no capricho para o jogo da porrinha. Gastou horas com o canivete, cheio de paciência alisando cuidadosamente os palitinhos. De vez em quando ia no terreiro e afiava o canivete na pedra de amolar.
No sábado, em frente à barbearia do Guidinho a turma foi chegando. Ninguém tocou no assunto com o Zé Bananeira da sorte grande que chegou de-repente, em sua vida, Breu já tinha alertado a turma da sua irritação.
Fala Fina abriu a caixinha, três vezes maior que uma caixa de fósforo e mostrou os palitos. Iniciaram a partida, quando a aposta estava nos oito reais, Zé Bananeira cantou um numero absurdo. Cada um foi abrindo as mãos, cravado em cima, Zé Bananeira ganhou sessenta e quatro reais.
- Ô cumpadre Zé Bananeira , sua contagem pra mim não ia passar nem por perto, falou o Quinzinho!
Zé Bananeira colocou o dinheiro no bolso, ouviu uma voz dizendo pra ele:
- Vim aqui Sr. Zé Bananeira, fazer uma entrevista com sua pessoa prô nosso jornal da cidade...
- Pára... Sergio Mala, entrevista pra quê... falta do que fazer, vai arrumá um serviço Sergio Mala. Vocês parecem as sete pragas do Egito, não dão sossego pra gente, sai de perto de mim, Sergio Mala e agorinha mesmo, ficou nervoso Zé Bananeira.
Sergio Mala fazia as reportagens da cidade, não chegava a ser um jornal propriamente dito, mas sim um informativo.
- Mas que homem, vocês viram? Veio aqui num sábado, tirar meu sossego.
- Deixa ele pra lá, Zé Bananeira, ou não deixa, quem sabe o Sergio Mala ficou interessado em sua pessoa... falou Paulo Salaminho, como sempre, tirando sarro, e tirou do bolso um punhado de fatia de salaminho.
Sergio Mala deu no pé, montou na bicicleta xingando baixinho:
- Pensei que ia arrancar uma gorja daquele miserável...
E a prosa seguia. Saiu o assunto dos preços do adubo e das sementes.
- Passei por lá, Zé Bananeira, fiquei com pena de ver o seu plantio, a chuva levou tudo!
- Verdade, Fala Fina, não sobrou nada.
- Nada mesmo, Zé Bananeira?
- Nada Guidinho, nem um pé de nada... mas não desconjuro Guidinho – o barbeiro, como sempre, ou quase sempre, estava com uma tesoura nos dedos, desta vez abrindo e fechando –
- Não desconjura do quê Zé Bananeira?
- Nesta vida minha, quantas colheitas eu enchi meu paiol, quantas colheitas Deus me ajudou, então, à meu ver, quando a gente perde alguma não tem importância. O importante, é aqui no coração Guidinho, é nosso coração ficar tranqüilo e sossegado.
E outra rodada de porrinha, nesta o barbeiro Guidinho participou, ainda conversou um pouco após a rodada e foi lá pra dentro do salão.
Chegou um vereador e foi pegando de mão em mão...
- Bom dia seu Breu... Bom dia seu Paulo Salaminho... Quando chegou pra cumprimentar o Zé Bananeira ,este segurou firme a mão do Chico Abisteve, usando da sua franqueza, Zé Bananeira só largou a mão do vereador quando terminou um lava sabão que passou nele.
- Seu nome, ou apelido, ou diabo à quatro tá de acordo com você, Chico Abisteve. Você acende duas velas como vereador e sabe pra quem acende?
- Quê negocio é este de duas velas Sr. Zé Bananeira, lá na câmera eu cumpro com meus deveres...
- Pura verdade Chico Abisteve, você merece ser aplaudido igual num circo. – Zé Bananeira segurava com firmeza a mão do vereador. Aumentou o tom de voz e perguntou pra turma:
- Cumpadre Quinzinho, puxa o cordão com a turma e vamos bater palmas prô nosso vereador.
Foi uma risada geral, todos bateram palmas, o barbeiro Guidinho e seu freguês com aquele avental branco na porta da barbearia, deram uma vaia no Chico Abisteve. Este esforçou para desgrudar sua mão da mão do Zé Bananeira, coitado, o homem era muito forte. Àquela mãozona segurava a mão miúda do vereador, de vez em quando escutava um estalar de ossos.
- Lá naquele lugar, Chico Abisteve, que as minhas amizades verdadeiras de muitos e muitos anos querem que eu participe, as duas velas sua ficam acesas dia e noite, mês e mês sem parar...
- Que velas, Sr. Zé Bananeira?
- As duas velas que está no seu coração de homem fraco,e sem caráter, Chico Abisteve. Você acende uma vela pra Deus e outra prô Diabo. Quer agradar todo mundo, aí você não tem sossego na vida. Um homem agrada,ou não agrada,todo mundo ele não consegue agradar.
Entrou na conversa o Fala Fina e o Jayme Rosinha, quase ao mesmo tempo, Levantaram o dedo em sinal positivo e falaram:
- Nem Deus consegue agradar todo mundo.
- Toda santa vez lá na câmera, - falava calmamente Zé Bananeira – quando chega sua vez de votar eles chamam: Sr. Francisco, qual seu voto? Você, Chico Abisteve berra igual um animal de quatro patas: Abistenho... Abistenho... é por isso Chico que eu nunca vou ser vereador, não há nada no mundo que pague a consciência, prefiro ficar no meu canto sossegado.
O Vereador parecia engasgado na goela. Quando foi embora, sem ninguém ver, fez o nome do Pai e ficou preocupado com a próxima eleição, se o Zé Bananeira que é um homem de muito prestigio e confiança resolvesse falar mal dele poderia atrapalhar sua reeleição.
E pegaram firme na porrinha. Jayme Rosinha havia ficado fora da cidade por mais de sessenta dias. Quando ele era apresentado à alguém fazia questão de dizer:
- Jayme Rosinha, Jayme com Y, ao seu dispor.
Não é que o Sergio Mala voltou por lá novamente! Passou lá no outro lado da rua olhando meio desconfiado pra turma.
- Ô Sergio Mala... puxa saco dos homi... gritou Paulo Salaminho.
Chegou uma bicicleta enfeitada com um cata vento no guidom, com a bandeira do Brasil na garupa, e em todos outros lugares da bicicleta estava colado o nome do seu time de futebol. Homem mulato,humilde e prestativo. Dizem que o Pedro, foi desafiado num rodeio, topou e domou a fera no picadeiro. Dali em diante ficou conhecido como Pedro Fera.
- Fiquei satisfeito com a noticia Zé Bananeira, quando é que o Sr. vai assumir o cargo no hospital?
- Pois então não fique mais satisfeito, Pedro Fera, agüentar um hospital... Só se tiver doente. Já disse que não quero o cargo, prefiro ficar quieto no meu canto, sossegado.
Na Barbearia o movimento era grande. Segredo daqui, de lá, marido levando chifre, mulher do marido desconfiada com a comadre.
- E aqueles assuntos lá no parque de exposição, Zé Bananeira,tudo acertado?
- Quem disse, Guidinho?
- É o boato, Zé Bananeira!
- Boato é igual mentira, tem perna curta. Fui lá na comissão, e na frente de todo mundo risquei eu mesmo, o meu nome. Mania feia deste povo, sempre querendo atrapalhar a vida da gente. Levo a vida como gosto e sou um homem sossegado.
Zé Bananeira olhou diferente para o barbeiro, este percebeu o olhar. Abriu a porta de um armário, tirou uma mala pequena e entregou para o Zé Bananeira. Ele chamou a turma e entraram todos dentro da barbearia.Colocou a mala no banquinho.
- Aqui dentro desta mala está quase todo dinheiro que ganhei na loteria, faço questão, é questão de honra pra mim repartir com vocês.
O Barbeiro desligou o rádio, a turma toda olhava o Zé Bananeira sem saber direito o que acontecia. A mala foi aberta e o Zé Bananeira foi distribuindo os pacotes de dinheiro amarrado num barbante. Em sua casa tinha feito as contas direitinho de quanto cada um ia ganhar, até do Tião Turco estava separado.
- Cumpadre Zé Bananeira, pelo jeito...
- Fique calmo ,compadre Quinzinho. Sei o que faço. Não preciso deste dinheirão todo. Dinheiro nunca me faltou, graças a Deus. Sou um homem abençoado e sossegado.
Logo em seguida, pegou a mala e despediu da turma.
- Pra terminar, Zé Bananeira, mais uma partidinha de porrinha?
- Nem que a vaca tussa, Jayme Rosinha. A Carminha comprou um disco daquelas músicas que eu gosto, e vamos beber a branquinha ouvindo musica tranqüilo e sossegado.
Até hoje, ninguém sabe ao certo se o Zé Bananeira ficou ou não com alguma parte do dinheiro da loteria, pra ele. Chegou a notícia, e comprovada, que o Zé Bananeira fez doação para a APAE e o Lar dos Velhinhos.


Miquito Mendes

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Atriz: Andréa Beltrão !!!




Esta atriz possui uma versatilidade digna dos grandes astros da 7ª arte. Eu creio que um momento há de chegar- possivelmente com Andréa Beltrão- os festivais de cinema mais importantes do mundo, incluindo a Academia do Oscar irá reconhecer seu talento.
Oriunda da comédia transitando por novelas e outros gêneros até alcançar a maturidade como intérprete nos filmes : Veronica, São Paulo- Salve Geral!

Temos uma grande atriz, versátil, dramaturga, - por isso é atriz- O cinema internacional irá reconhecer seu trabalho, é apenas uma questão de tempo !

Um cheiro no ar....



Percebe-se no ar , um processo desencadeado por setores da mídia, cujo objetivo é a INTRIGA da presidenta Dilma Rousseff com o companheiro Lula. Este entregou a faixa presidencial, cumpriu suas obrigações como Presidente e Estadista que foi e é. Portanto, nós da militância do PT, também estaremos atento as atitudes desta mídia.
A presidenta Dilma Rousseff como o companheiro Lula são maduros suficientes pra não botar a mão na cumbuca armada por eles !

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

O Encontro da Razão com a Emoção !!!
















Certo dia, melhor dizendo, certa tarde, naquela praça toda arborizada, com a brisa varrendo a cabeças das pessoas, as duas se encontraram, a Razão com a Emoção. Ultimamente as duas andavam se estranhando, mas naquela tarde estavam super calmas, parecia até que haviam tomado Lexotan.

- Razão! Você por aqui? Há quanto tempo!
- Pois é, Emoção, ando por aí mesmo, como sempre.
- Quais as novidades?
A Razão respondeu na bucha:
- Eu nunca tenho novidades, Emoção, você bem sabe, e porque haveria de ter?
Emoção pensou um pouco:
- Novidades, situações e imprevistos na vida de qualquer um, Razão, aparecem do nada quando você menos espera, bummmm acontece.- a Emoção deu um estalo nos dedos-
- Comigo, Emoção, tudo é planejado nos mínimos detalhes. Não gosto de imprevistos, e caso aconteça tento administrar o mais racional possível.
- É, Razão! É !...veja, mas você não sente sua vida meio sem vida?
- Por quê?
- Razão...a gente tem que pisar na bola de vez em quando. Você só faz planejamento e mais planejamento e se uma hora destas dar uma zebra e te pegar desprevenida? Tenha certeza que sua hora vai chegar.
- Já disse, Emoção, lido com fatos e não com conjecturas, tão pouco com o coração.
- Você já chorou alguma vez ,na vida, Razão?
- Uma pergunta desta não merece resposta.
- Ok, Razão, Ok, me desculpa sobre a pergunta ser tão pessoal e te pegar desprevenida....- Emoção deu uma risadinha de leve- só pra complementar, espero Razão, que você entenda a essência da minha pergunta e não seja preconceituosa...
- Diga !
- Já teve alguma paixão na vida?
- Paixão nunca, paixão é um devaneio, não tem lógica.- a Razão mexeu com a cabeça para o lado e prosseguiu:- Já gostei dentro dos parâmetros normais e do equilíbrio.
- Como é este equilíbrio, Razão, pode me explicar?
- Não tem muito o que explicar, Emoção, apenas gostar equilibradamente.
- Mas existe situação assim, Razão? Gostar desta forma?
- Claro, minha amiga. Você deve sofrer pra cacete pelo visto. Perguntou sobre paixão, o que não é bom sinal, perguntou se eu já chorei...significa que você é muito emotiva, repito, não é bom sinal.
- Paixão e amor, Razão, ou amor e paixão é o que nos diferencia das máquinas.
- Discordo, minha amiga Emoção, vocês são carregadas de emoções, parecem masoquistas, sofrem porque querem. Qualquer detalhezinho já abala a estrutura de vocês. Quer ver? Um exemplo: Uma cena imbecil de novela, fazem vocês chorarem ou sentir raiva, que tipo de vida é esta?
- Uma vida normal, de altos e baixos...como você não sabe, Razão, o que é chorar, é fria e calculista, jamais irá entender estes tipos de sentimentos.
- Estes tipos de sentimentos? Eu sei que eles existem, Emoção, sei perfeitamente. O que me diferencia de você é que consigo controlar-me....já sua espécie não tem controle de nada, ficam abalados, deprimidos,qualquer coisa entram logo em pânico , longe de mim viver assim.
- Você disse, Razão, sobre nossa espécie ser diferente da sua. Tá bom. Com todo este controle da situação que você acabou de dizer que tem, Razão, sua espécie, porém, não sabe o sabor das lágrimas sejam elas de alegria ou de tristeza. Sua espécie não sente emoções, evita a todo custo chorar ou dar uma boa gargalhada, usando seu termo: estes detalhezinhos da vida, é que nos torna humanos, vocês em nome da racionalidade, também devem sofrer pra cacete.
A Emoção tomou fôlego e continuou:
- Sua natureza, Razão, não tem noção das aventuras e desventuras, você não entende os casos de amores e desamores. Quer outro exemplo, minha amiga, Razão? Se sua espécie vai a um cinema, teatro ou circo, vocês aplaudem mecânicamente...e não com a alma. Por tudo isso, Razão, eu lamento por você !
- Tá vendo? Você lamenta por mim...porquê lamentar por mim? Ouvi seu desabafo atentamente, é apenas o que posso fazer, te ouvir.
- Razão?
- Sim, Emoção !
- Diga exatamente o que você sente quando vai a uma apresentação, por exemplo: A 9ª Sinfonia de Beethoven, qual sua reação?
- Normal , é claro!
- Pode ser mais específica?
- Como?
- Quando diz que sua reação é normal, pode me dizer como é este “ normal” seu?
- Ora, Emoção, quer resposta mais clara e objetiva? Assisto e ouço como os outros, nada mais além disso, algo normal.
- Somente isso?
- Deveria ser diferente? Emoção! seja direta nas suas perguntas, sem rodeios, vai.
- Ainda estou confusa, Razão, não fiquei convencida, ou não entendi sua resposta.
- Quando vou à uma apresentação desta, Emoção, presto atenção nos mínimos detalhes, caso contrário eu estaria sendo incoerente e perdendo meu tempo.
- O que seria “ nos mínimos detalhes”, Razão?
- É um interrogatório, Emoção, qual o objetivo? Já que você faz tanta questão destes detalhes, o que me diz, Emoção, da sua espécie, quando assiste a 9ª Sinfonia?
- Já que você, Razão, não quis perder tempo me explicando” nos mínimos detalhes” digo eu.
- Sou todo ouvidos, minha amiga, Emoção !
- Eu vejo lá no fundo da Orquestra Filarmônica uma notinha musical perdida...dali à pouco o som do clarinete, em seguida as flautas, violinos, violoncelos, todos os sons leves e suaves dentro de uma harmonia divina. Como se fosse uma mágica, o som emerge magistralmente vindo até nós...
Interrompeu a Razão com expressão de tédio:
- E...?
- Em determinadas partes da Sinfonia, Razão, eu vejo o duelo entre o céu e o inferno, vejo ainda o conflito interior do compositor. São como duas folhas flutuando no espaço. Uma representa o céu outra o inferno. E vão flutuando...flutuando....uma delas em determinado momento incendeia, transforma-se numa tocha de fogo cheia de raiva, revoltada e sofrida. A outra permanece tranqüila, serena, flutuando como se nada a impedisse.....como se fosse o próprio Universo.
- E...?
- E...o quê, Razão?
- Me perdoe , amiga Emoção, uma visão simplista da sua parte e puramente emocional. Se Beethoven pudesse ouvir sua dissertação sobre a 9ª Sinfonia...acharia ridículo!

- Agora sou eu, Razão, que acho melhor mudar de assunto.
- Faz bem, Emoção, tenho sempre como meta raciocinar em cima de uma lógica absoluta, nada de probabilidades abstratas.
- Faço das suas palavras, amiga Razão, as minhas.
A Razão percebeu de imediato ,um certo ar sarcástico na Emoção.
- Eu tenho certeza, Emoção, certeza, que num futuro próximo sua espécie vai desaparecer da terra.
- Por quê?
- O mundo de hoje, aliás, sempre foi assim, nunca aceitou sua espécie, apenas a tolerou. Na conjuntura atual da globalização os dias de vocês estão contados.
- Quer dizer, então , que vão sobreviver pessoas que são apenas robotizadas, gente como você? Vão acabar as dores? Vai existir uma pílula pra todos os males? Não vai existir sofrimento? Frustações? Vão acabar com a alegria e a tristeza , tudo será banal? Vai acabar o bem e o mau? Vão acabar com os compositores?... os escritores? Vão? Os riscos de uma atitude mal tomada irão desaparecer? Os anseios de uma geração ancoradas nos seus sonhos? Será proibido ter sonhos? Ter esperanças?
- Você ficou confusa, Emoção !
- Não me interrompa, Dona Razão!
- Me chame simplesmente por Razão, não vá perder o controle da situação e apelar. Continua...
- Como sempre, você não deixa ou corta o raciocínio da gente, Dona Razão.
- Mil desculpas....continue, por favor!
- Na linha do seu raciocínio, Razão, minha espécie tende a desaparecer....te pergunto: vai desaparecer também o poeta? O violeiro? Vai sumir do mapa a arte de amar? O beijo do pai no filho vai para o espaço? O que vai sobrar neste mundo?
- O que vocês não conseguem entender, a sua espécie, Emoção, é a praticidade no mundo de hoje, e o dinamismo.
- É...?
- É...
- Bem, já que é assim, pra encerrar logo o assunto, Dona Razão, vou fazer apenas uma pergunta e vou-me embora, posso perguntar?
- Não se exalte, Emoção....calma e equilíbrio....vamos ser racionais!
- Não me exaltei, pelo contrário, Dona Razão....
- Não?...
- Não...
- Faça a pergunta!
- Na realidade são duas perguntas.
- Faça quantas quiser !
- Dona Razão, faça pra mim, uma descrição, mas que não seja simplista, como foi a minha segundo suas palavras, faz?
- Diga !
- A primeira delas, caso um dos seus filhos venha a sofrer um acidente mortal, seguindo sua filosofia de vida, como você iria reagir nesta situação?
- Não jogo com hipóteses, Emoção, N vezes já lhe disse e vou repetir, sou do time que usa a lógica absoluta e ponto final.
- Lógica absoluta, Dona Razão, são dois e mais dois igual a quatro e pronto, então é assim sua filosofia? Esta lógica será que funciona com seres humanos? Esta lógica ajuda uma mãe a amamentar? Esta lógica absoluta ,dá forças para um pai trabalhar vinte horas por dia, para o sustento da família? Esta lógica sua permite que alguém faça uma boa surpresa à outro? Pensa lá, faz uma reciclagem...sua espécie é interessante....e triste.
- E a segunda pergunta?
- Dona Razão!...presta atenção....quando você vai fazer amor ou transar apenas por transar, dando um beijo língua com língua, prevalece a lógica absoluta no ato ou outra sensação?
- Sensação normal, Emoção !
- Não fuja da objetividade da minha pergunta,Dona Razão, que sensação é esta? Eu quero saber, faço questão absoluta de saber o tipo de sensação por qual você passa ! Detalhe pra mim.
A Razão ficou quieta, mas ela sempre tinha pronta, na ponta da língua, resposta pra tudo. A Emoção não tirava os olhos dela.
- E, ...Dona Razão?
A Razão ainda permanecia quieta, silenciosa, semblante pensativo. O tempo foi passando. Insistiu a Emoção:
- E aí, Dona Razão?
A Razão abaixou a cabeça, não conseguiu responder !!!


Miquito Mendes !!!

Paulinho da Viola: Sinal Fechado !!!



Música do compositor Paulinho da Viola é esplêndida e estarrecedora . Dias atrás, estava no Rio de Janeiro,( num engarrafamento) embora tenha morado por lá alguns anos, tempo de Universidade, e pelo menos uma vez por semana passe na cidade maravilhosa,de certa forma me desacostumei com a quase loucura completa de toda Metrópole. Onde moro, atualmente, estamos acostumados a deixar a chave do carro na ignição, dormir com a casa praticamente aberta, ou seja, o portão de entrada,e até a porta que dá acesso à casa.
Quando ouço Sinal Fechado, se estou numa Metrópole, não chego a ficar deprimido mas angustiado.

Obra prima da música brasileira. Um viva ao Paulinho da Viola !!!



Sinal Fechado
(Paulinho da Viola)
Olá, como vai
Eu vou indo e você, tudo bem?
Tudo bem, eu vou indo, correndo
Pegar meu lugar no futuro, e você?
Tudo bem, eu vou indo em busca
De um sono tranqüilo, quem sabe?
Quanto tempo...
Pois é, quanto tempo...

Me perdoe a pressa
É a alma dos nossos negócios...
Qual, não tem de que
Eu também só ando a cem
Quando é que você telefona?
Precisamos nos ver por aí
Pra semana, prometo, talvez
Nos vejamos, quem sabe?
Quanto tempo...
Pois é, quanto tempo...

Tanto coisa que eu tinha a dizer
Mas eu sumi na poeira das ruas
Eu também tenho algo a dizer
Mas me foge a lembrança
Por favor, telefone, eu preciso
Beber alguma coisa rapidamente
Pra semana...
O sinal...
Eu procuro você...
Vai abrir!!! Vai abrir!!!
Eu prometo, não esqueço, não esqueço
Por favor, não esqueça
Adeus... Adeus... .

sábado, 5 de fevereiro de 2011

Um homem sossegado !!!














Existe a máxima que cada um é cada um, e cada um leva a vida como quer.
Dia destes, numa roda de conversa, olha quê, nestas rodas é um perigo, explico por quê. Falam o que deve e o que não deve. Normalmente, este grupo de amigos se reuniam logo onde? Em frente à barbearia do Guidinho. Quer melhor lugar pra saber as fofocas do que uma barbearia? ...ou num salão de beleza? Estes possuem as mesmas características de uma barbearia, porém, diferenciam apenas num pequeno detalhe, as fofocas são feitas ao pé do ouvido, baixinhas, enquanto quê ,nas barbearias, eles falam em alto e bom tom, ouve quem quer e quem não quer acaba ouvindo.
Na roda, também jogam porrinha, valendo.
Zé Bananeira é um caboclo, diz ele, que sabe o que quer e o que não quer. Acostumou tanto com o apelido acrescido ao Zé de Bananeira, se fosse assinar um documento, assinava como Zé Bananeira.
Numa das eleições, ele esqueceu todos os documentos em casa, quando entrou pra votar, o fiscal perguntou:
- Qual seu nome verdadeiro, Sr. Zé Bananeira?
- Acabou de falar.- existe testemunha deste fato, além do próprio fiscal contar na cidade-
Religiosamente, a cada 30 dias ia à barbearia, o dia de preferência era sempre no sábado.
- Conta aí, Zé Bananeira, continua na maré mansa?
- Quer que eu leve a vida de mal com ela? ... e soltou àquela gargalhada gostosa, sua dentadura tremeu todinha.
Outro da roda perguntou:
- Conseguiu aposentar?
- Êta pessoal sem compromisso lá naquele INSS, toda vez que eu ia lá, pediam um documento novo. Faz mais de dois anos que sumi daquele lugar, povinho vagabundo...
- Mas é um direito seu de aposentar.
- Prefiro não ter dor de cabeça com aquele povinho de lá, e ficar sossegado no meu canto, ganho mais.
- E levar a vida na maré mansa?
- Sem dúvida...sem dúvida, pra quê ficar abismado com qualquer coisa na vida?
- Massss, Zé Bananeira, é um direito sagrado a aposentadoria....todo mundo aposenta, uma hora ou outra, mas aposenta.
- Pra atanazar minha vida indo pra lá e pra cá, prefiro não aposentar. Não há nada no mundo que pague a tranqüilidade, um sossego na vida, nem uma boa aposentadoria.
- Você vai ajudar no bingo do hospital?
- Ajudar eu vou ajudar, Paulo Salaminho, mas cantar as pedras sem chance. Este negócio de ficar berrando igual louco os números das pedras, é um problemão.
- Qual razão, Zé?
- A gente canta a pedra, fala o número devagarinho, são tão surdos...ficam pedindo pra repetir, aí a gente repete, vem um berro lá de baixo, parecendo que o mundo vai acabar. Batiiiii...e dá aquele murro na mesa, parece um animal de quatro patas. Eu participo do bingo mas como jogador, é mais sossegado.
Paulo salaminho ficou meio em dúvida se concordava ou não com Zé Bananeira. Levou a mão no bolso, pegou uma fatia de salaminho e ofereceu pra turma.
- Zé Bananeira, então ficou acertado com os times que é você mesmo quem vai apitar a final do campeonato?
- Nem me pagando prata, ouro e incenso. Tá louco? Não vou procurar chifres na cabeça de potrinho, com àquela torcida dos dois times querendo matar uns aos outros, porque você não vai apitar, Quinzinho? Vou assistir o jogo tranquilamente, bem sossegado.
- Não vou apitar, porque não fui convidado, Zé Bananeira, se fosse ia ser uma honra pra mim.
E a roda continuava com o bate papo. Até o barbeiro com a tesoura presa entre os dedos, aparecia lá, dava palpite, sem a menor pressa, pouco importando com o freguês esperando na cadeira.
- Zé Bananeira, só aqui entre nossa turma, você tem dois compadres, é popular na praça, vai ou não vai ser candidato à vereador?
- Prefiro ser internado em Barbacena, nos hospital dos loucos. Pensa bem, compadre, aquele povaréu na porta da minha casa pedindo de tudo...
- O sonho de muitas pessoas é poder ser um vereador, compadre Zé Bananeira.
- Num desacredito deste sonho de quem quer ser vereador, compadre, mas cá comigo, agüentar amolação dia e noite não dá. Prefiro o sossego.
- O salário de um vereador hoje, chega a dois mil contos...( dois mil reais, mas alguns preferem usar o termo “contos”).
- Pode ser de dez mil contos, mas este dinheirão não compra o jeito da gente levar a vida como gostamos e estou acostumado. Prefiro mesmo, compadre, ficar sossegado.
O compadre ficou abaixando e levantando a cabeça em sinal negativo, não conseguia entender àquela atitude do Zé Bananeira.
- Ô ditado certo, dizem que Deus, ás vezes, dá asas pra quem não sabe voar....
- E também corta as asas , compadre, de quem fala sem pensar, o que vem na cabeça.
A conversa continuava animada, o barbeiro não parava dentro do salão e nem lá fora.
Saiu o assunto de pescaria. Ali todos pescavam. O barbeiro ouviu, baixou o radinho, foi até a porta e disse:
- O rio encheu, tá bom pra pescar, amanhã de madrugada nossa turma já combinou de ir.- retornou, aumentou o som do rádio, mas com antena ligada lá fora, o barbeiro era fanático por pescaria.
- Zé Bananeira, desta vez eu quero ir junto com sua turma...já viu, né?...ano passado a turma contou que você desaparecia deles quando chegava na beira do rio e só voltava tarde da noite, na horinha da turma vir embora.
Zé Bananeira ficou manjando o Breu falar. Ele era tão negro que parecia azulão, o apelido Breu estava de acordo.-
- Continua, Breu...pode continuar, o povo é danado pra aumentar....
- Mas não inventar, Zé ! A sua turma clamou que você durantes uns tempos, ano passado, foi o único que não conseguiu pescar nem uma piquira....
Todos riram, continuou o Breu,
- A sorte acabou, Zé Bananeira? - a pergunta foi maliciosa, todos perceberam. Prosseguiu o Breu:- Desta vez, Zé, será que vai sobrar alguma coisa pra turma?
A roda ficou atenta, eles sabiam sim, tinham certeza, mas queriam ouvir da própria boca do Zé Bananeira os detalhes...
- Conta pra nós, compadre, conta !!!
- O povo tem a língua comprida e uma coisinha pequena eles transformam numa coisa gigante, mas não vou negar e nem posso.
Um silêncio tomou conta da turma. Todos fixaram o olhar no Zé Bananeira. O barbeiro Guidinho parou imediatamente e foi lá ouvir.
- Pra baixo do rio, do lugar da ceva, menos de uma légua de distância, um dia encontrei com ela....
- Ela quem? Perguntou ansioso o Quinzinho.
- Ela clamou pra mim que o marido vivia bêbado e dormia o dia inteiro debaixo da árvore, ou ia pra cidade e ficava sem aparecer dias e dias. Mulher fogosa. Esta primeira prosa tivemos na beira do rio.
Ninguém falava nada, parecia que nem piscavam, tamanha era a curiosidade.
- Conta logo, Zé...conta logo...
- Um dia bati na porta da casa dela e puxei conversa, e a conversa tomou outro rumo, a mulher dizia que precisava dum homem.
Zé Bananeira abriu o canivete, e lentamente foi cortando o fumo chamado goianinho, rolo fininho, e foi esfregando o fumo na palma da mão, pôs na palha calmamente, e acendeu o cigarro. A respiração da turma estava acelerada. Que diabos, pensavam, o homem não terminava logo de contar.
- Não é gente que a mulher encanou comigo? Chegou até a costurar minha camisa e fez um gorro na medida certa pra mim, com linha de lã.
- Você é sortudo, compadre.
- Pode ser sorte...e pode não ser...
A impressão é que todos falaram ao mesmo tempo:
- Então deu azar?
- Olhem minha situação, aposto que vão concordar comigo. A mulher é uma mulher prendada, se eu falar diferente tô pecando...mas chegou uma hora que ela era igual carrapato, não desgrudava...
Perguntou Paulo Salaminho:
- Mas, Zé Bananeira, qualquer homem gosta de ser paparicado, né?
- Concordo em parte....agora vocês vão me dar razão. Um dia quando entrei na casa dela, reparei cinco malas....cinco malas prontas pra viagem, perguntei se ela ia viajar. Sabe o que ela respondeu? Queria amigar comigo, vir morar na minha casa.
- Não topou por quê , compadre?
- Eu quero é sossego na minha vida, arrumar problema e complicação? E se por acaso, o marido dela desse parte de mim, na polícia? Meu sossego ia parar nas grades vendo o sol nascer quadrado.
- Desta vez, concordo mil por cento com você, a gente não deve robar mulher dos outros, disse Paulo Salaminho.
- A Carminha chegou a saber, Zé? Perguntou o barbeiro.
- A vantagem da Carminha, Guidinha, ela é uma mulher compreensiva, entendedora, aposentada e sossegada na vida, e não é de ficar interrogando a gente. É sossegada mesmo, por isso combinamos tão bem.
O barbeiro desta vez esqueceu mesmo o homem lá no salão, quê por sinal estava com parte do rosto cheio de falhas na espuma branca.
E foi logo perguntando, com a navalha na mão:
- Sempre tive carência de saber, Zé Bananeira, quanto tempo faz que você e a Carminha são namorados?
- Certo no certo mesmo já perdi a conta. A irmã dela,a Nazaré , nem pensava namorar ainda e é um ano mais nova que a Carminha, foi quem ajeitou pra nós dois trocar cartas de amor....
- A Nazaré?
- Sim, a Nazaré, Guidinha, mas porque este olhar de espanto?
- A Nazaré já tem netos. Nossa mãe do céu, Zé Bananeira. Quantos anos faz isso, homem de Deus!
- É como disse, por baixo...por baixo...faz mais de trinta anos e menos de trinta e cinco, isso eu posso garantir.
- Homem do céu, perguntou o Breu, qual foi o impedimento de sair o casório?
Zé Bananeira deu de ombros.
- Eu e a Carminha combinamos em tudo. Prô bem da verdade, hoje, eu e a Carminha não sabemos se somos amigos, namorados ou noivos...somos os dois, sossegados, e a pressa é inimiga da perfeição, Breu!
Paulo Salaminho,não perdia uma oportunidade, quando podia, de tirar um sarrinho do Zé Bananeira. Perguntou naquela altura de voz, pra ter certeza que todos ouviriam:
- Será, Zé,...será que o nervosismo não te abateu? Quem sabe você colocou minhoca na cabeça e achou que na hora H quando casasse podia não dar conta do recado?
- Por acaso, sua irmã , a Clotilde, disse que eu não dei conta dela? Indaga e depois fala pra turma toda, Paulo salaminho, sou um homem tranqüilo e sossegado.
A conversa ia de vento em popa. Não faltava assunto. Dedo de prosa vai, dedo de prosa vem, e o tempo ia passando.
- Fiquei cismado seu Zé Bananeira, o Sr. que é tão devoto foi o único da turma a não pegar a lista do padre...
- Ara, Fala Fina, por acaso sou obrigado a sair na rua enchendo o saco das pessoas pra contribuir com a lista do padre? Eu quero é sossego em minha vida.
- Mas o padre contava com sua ajuda, seu Zé !
- E a sua língua de tão fofoqueira, um dia não vai caber dentro da sua boca, Fala Fina. Puxa saco de padre. Eu não assumo compromisso se eu não quiser, não sou obrigado. Faço apenas o que eu quero, graças a Deus, sou um homem sossegado.
- Agora eu discordo, Zé, discordo e provo.
- Do quê?
- Você diz que faz o que quer e eu provo que não.
- Então faz a prova dos nove!
- É pra já. Naquele baile, dia de Santo Antonio, você foi obrigado a dançar com a Maria Cintura Fina, se estou armando falso, prova que estou errado.
- Não é à toa que vocês dois- apontou o dedo para o Fala Fina- são dedo e unha. Eu dancei com ela, já tinha reparado nela, tava cheirosa, arribada, ajeitada. Caiu do cavalo Paulo Salaminho, como vocês levam uma vida agitada e não sossegada, invertem tudo a seu bel prazer.
- Tenho lá minhas dúvidas, seu Zé Bananeira !
- Então engula e arrota sua dúvida, Fala Fina !

Chegou a vez do Zé Bananeira cortar o cabelo, cochilou sentado naquela cadeira velha.De vez em quando despertava e ouvia cada palavra, sabia inclusive quem estava mentindo.
Logo em seguida, despediu da turma.
- Fica mais um pouco, Zé, vamos armar uma duplazinha pra jogar truco.
- Nem que a vaca tussa, Breu, eu fico. Vou passar no bar e beber minha branquinha, fazer um revirado lá em casa, deitar na rede, e ficar sossegado puxando uma soneca.

Bem....vou parar de escrever e imitar o Zé Bananeira, uma boa pestana não faz mal a ninguém.


Miquito Mendes !!!